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Recebi, dias atrás, um convite da amiga Conceição Molinaro para assistir a uma peça teatral montada pelos seus alunos terceiranistas do curso de Artes Cênicas da escola Fego Camargo. Adoro Teatro, lógico que não poderia deixar de ir... nem sequer perguntei pelo nome da peça e já aceitei! Cheguei em cima da hora, coisa que não é do eu feitio e que me desagrada fazer, mas que naquele dia não deu para evitar.
Talvez como um tipo de castigo pela minha indisciplina temporal, cheguei e me sentei na última cadeira disponível, no cantinho da terceira fileira. Tudo bem, já que palco não havia, e sim uma pequena arena no centro do auditório onde o cenário simples se apresentava. Com certeza, teria boa visão dalí.
O som de um coração batendo se propagava pela sala e a iluminação, fosca e insuficiente, mal deixava entrever as peças do cenário: uma cama, uma janela, algumas cadeiras... cadeiras onde alguns personagens já aguardavam pelo início da peça, concentrados em seus papéis misteriosos.
De repente, sons reverberam no meio da penumbra... vozes confusas, risos de escárnio, movimentação errática dos personagens por toda a cena. Tinha início a peça, uma crua descrição de um crime praticado por um homem atormentado, perturbado, demente.
Nos primeiros minutos da peça já me vêm à memória alguns contos de Edgar Allan Poe... “O barril de amontilado”, “O corvo”, “Os dentes de Berenice”, “A queda da casa de Usher”... quase podia ler a assinatura de Poe nas sombrias imagens que pelo palco falavam, gritavam, se retorciam.
Pessoas mais próximas à cena, muito provavelmente desacostumadas a interagir com atores teatrais assim tão de perto, se encolhiam meio assustadas quando o texto ficava mais intenso e a ação mais enérgica. E devo admitir que o clima era mesmo meio atemorizador... a insanidade do personagem, maquiada exageradamente pela penumbra onipresente na montagem, realmente intimidava.
E assim, os minutos passaram muito rápidos e a peça chegou ao clímax, momento em que o assassino é delatado por si mesmo, pelo seu próprio desequilíbrio. Ao final da peça não foram cerraram cortinas porque não as havia, mas alguns auxiliares conduziram os presentes para a saída rapidamente. Eu fiquei dentro do salão, aguardando para pode parabenizar minha amiga pelo excelente trabalho realizado pelos seus alunos. Agradavelmente surpresa (minhas antenas estão polidas!), descobri conversando com os atores após o término da peça, que realmente o texto ali interpretado era uma adaptação de um conto de Edgar Allan Poe.
Fiquei mesmo impressionada com a capacidade que estes alunos tiveram de criar a atmosfera de uma forma tão convincente que foi capaz de trazer à minha memória o nome de Poe tão prontamente. Ainda mais porque descobri, pela própria professora Conceição, que eles foram totalmente responsáveis pela montagem, do texto à iluminação, passando pelo figurino, concepção dos personagens e tudo o mais.
Quero deixar ao fim desta coluna, senão mais e mais reflexões sobre os temas velhice, loucura e memórias (o espaço seria insuficiente!), os meus sinceros parabéns à equipe de alunos que tão brilhantemente soube criar um espetáculo assim original e minha felicitações à Conceição e à toda equipe da área de Artes Cênicas da escola Fego Camargo, por terem conseguido motivar estes jovens artistas a chegarem ao ponto que chegaram.
E a você, leitor amigo, deixo a sugestão de ir vê-los. Sei que eles irão apresentar a peça mais algumas noites, embora não saiba ao certo quando. Portanto, liguem para lá e se informem, vão lá prestigiar esses jovens talentos porque com toda certeza vocês irão gostar!
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