quarta-feira, 24 de julho de 2013

UMA MORTE PATROCINADA PELO SISTEMA.

Eu penso que foi por volta de Julho de 2012 que eu o conheci. E foi através de uma postagem de desabafo feita por ele no facebook. Nesta postagem ele narrava o motivo de sua perplexidade, de sua revolta, algo mais ou menos assim...

Lutando contra o câncer há cerca de ano e meio, entre as intragáveis sessões de rádio e de quimioterapia, numa tarde fria de Julho, ele tomou coragem foi ao supermercado. Magro e careca (por isso bem agasalhado e com gorrinho de lã) foi atacado por policiais militares logo ao entrar no estacionamento. Sem nada entender, foi jogado ao chão e revistado com brutalidade. Depois compreendeu: uma mulher, que havia visto alguém tentando roubar seu carro no estacionamento, chamou a polícia e, ao ser indagada sobre o suspeito, apontou para ele (sabe-se lá por que!), que entrava naquele espaço sem saber de nada. Os populares ao redor acudiram e explicaram que ele havia acabado de chegar. E assim ele foi liberado após explicar que usava o gorro apenas porque estava com frio e já não tinha cabelos. Foi liberado pelos PMs de cara feia, a contragosto, sem nenhum tipo de pedido de desculpas.

E foi assim que conheci meu amigo Lécio Panobianco, através do facebook. Trocamos ideias, muitas ideias: de receitas para restauração da saúde a papos sobre fotografia (ele era fotógrafo freelancer, e dos bons!)

Os meses foram se passando e as suas consultas e exames no sistema público de saúde eram constantemente desmarcadas, postergadas, negadas. O desespero dele crescia par a par com o tumor que o ameaçava e nada havia a fazer, já que o dinheiro necessário para pagar por tratamentos particulares não existia. A cada nova postagem dele lamentando o descaso do sistema, que desmarcava seguidamente e sem dó consultas e exames, o nó na minha garganta crescia e minhas pequenas tentativas (do tamanho dos meus braços, nunca do meu coração) de conseguir alguma ajuda médica recrudesciam, porém sem grande sucesso.

Foi quando outro conhecido do facebook entrou na historia e conseguiu, através de alguns contatos pessoais privilegiados, o milagre de realizar em uma semana tudo o que não se conseguiu ao longo de um ano: exames em um bom hospital e a cirurgia que extraiu o tumor de sua virilha. Uma grande vitória numa pequena batalha, mas com certeza uma bandeira de esperança fincada no cume da incerteza. Mas foi tardia demais essa vitória, pois as metástases já eram numerosas e só o que restou foi tentar manter o bom ânimo, o moral elevado e um pouco de companheirismo pela internet antes do fim.

Eu nunca tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, só nos falamos por mensagens e uma vez com áudio e vídeo, via skype. Porém, eu tinha um grande carinho por ele e torcia imensamente por seu restabelecimento.

Ele se foi na sexta-feira passada, dia dezenove de Abril de dois mil e treze. Não deveria ter ido, pois ainda era novo, não tinha cinquenta anos. Mas se foi, deixando um vácuo em seu lugar, uma falta que sua família sentirá por muitos anos ainda.

E se foi porque os impostos que pagamos não servem para nos atender nas horas de necessidade e sim para que políticos desonestos nos roubem diuturnamente, numa imoralidade já costumeira, consagrada e asquerosa.

Ele se foi porque nenhum profissional do sistema público de saúde que o atendeu e tratou teve consciência e real interesse pelo ser humano que buscava ajuda... se foi porque a cegueira e o desamor campeiam soltos por aí.


Lécio, meu amigo querido, na verdade eu nem tive tempo de dividir com você minhas pálidas e frouxas crenças num “depois da vida” benfazejo, confortador e compensador, mas estou aqui agora de mãos postas e coração límpido, vibrando e orando pelo seu conforto, pela sua alegria e pelo seu bem estar onde quer que você esteja. 

Seja feliz, meu irmão.
BIZARRICES.


Que o ser humano é ocasionalmente bizarro é uma verdade já consagrada em todo canto. Há os que nos chocam com suas bizarrices, assim como há os que nos encantam e divertem com suas peculiaridades bizarras.

Mas há os que realmente “pulam o Corguinho” quando se trata de perder a noção da normalidade, do bom senso, né não?

Estou sem internet em casa, pois moro numa chácara cercada de morros e árvores altas, o que não permite sequer a boa e velha internet movida à lenha, ou seja, internet à rádio. Enfim, tenho que vir ao cibercafé sempre que preciso acessar a internet e isso tem causado problemas vários, como a minha falta de assiduidade a esta amada coluna.

Outro dia eu estava aqui, sentadinha, mandando material para as aulas de música da escola quando um rapaz novo, descoladésimo, se sentou na cadeira ao meu lado e ligou o skipe (para quem não sabe, é uma programa que permite conversar e ver a pessoa do outro lado, um videofone). Logo conectou-se com outro rapaz tão novo quanto ele e iniciou uma conversa sui generis. Sem preâmbulos nem maiores cerimônias, foi perguntando ao rapaz se ele era passivo ou ativo.

Uau, subitamente o ciber todo parou de teclar para começar a ouvir melhor depois dessa... afinal, não é todo dia que se ouve uma pergunta dessas em público, feita em voz alta e clara.

O cara respondeu algo que não ouvimos, porque é claro que o moço ao meu lado usava um fone de ouvidos, mas deve ter perguntado ao rapazinho de onde ele estava falando. E o moço respondeu candidamente que estava no cibercafé. O outro deve ter se incomodado muito com isso, porque o que estava ao meu lado ficou uns bons cinco minutos perguntando: “O que é que tem?” “Qual o problema?” e argumentando que era tudo absolutamente normal. Ele deve ter tido sucesso com o amigo, porque o discurso original continuou em alto e vibrante tom. Perguntas como “quantos anos ele tem?”, “é ativo ou passivo?”, “ele cobra o programa?” se sucederam e o papo continuou assim por mais ou menos uma hora.

Vejam bem, nada tenho contra a homossexualidade, na verdade tenho amigos muito amados que são homossexuais. O que me fez achar o discurso do moço bizarro não foi o conteúdo da conversa em si, mas a abertura das intimidades dele com estranhos ocasionais que estavam sentados ao lado dele. Isso é algo estranho, bizarro mesmo para mim, pois seria como se todos nós nos puséssemos a falar sobre nossas performances e preferências sexuais para platéias de desconhecidos no meio da rua, o que para mim é algo horrendo.

Sou só eu que acho isso estranho ou tem mais gente que pensa como eu?

Ah, o ser humano, fonte de infinitas surpresas e comportamentos. Neste caso, nada de mais significativo, pois não fez mal algum a ninguém, só deixou alguns meio pasmos e outros tantos chocados. Eu, pessoalmente, me diverti bastante, pois a singularidade da conversa realmente foi hilária.


E assim vamos indo, conhecendo mais e mais a cada dia, aprendendo e ampliando nosso conhecimento do mundo a cada passo. Uma benção isso, não?