quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

NATAL DE PAZ, NATAL DE LUZ, NATAL DE AMOR...

“Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.” (Mateus 25:34–36).
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É dia 11 de Dezembro de 2009, faltam apenas 14 dias para o Natal, data máxima da cristandade, uma festa de amor, paz e fraternidade.

São 22h00min e eu sigo de carro com minha filha procurando um endereço nas ruas próximas ao shopping center. Garoa, o tempo não está bom e, seguindo as instruções que um amigo me deu, aventuro-me a seguir um caminho que parte da frente da Ford em direção ao Jardim Aeroporto, a Avenida Charles Schneider. Ao terminar de fazer a primeira curva, minha filha fala:

-“Mãe, eu acho que tem uma pessoa jogada na pista, perto do canteiro... não deu para ver se é homem ou mulher, mas tem alguém deitado lá!”.

Retruco que não vi nada, que não percebi nada estranho no caminho, mas ela segue afirmando o que viu, assustada até. Sigo uns metros adiante, encontro um retorno e volto devagar, atenta a qualquer sinal de uma presença humana no asfalto molhado. E então eu vejo: um corpo caído do outro lado do canteiro central.

Paro o carro ao lado do canteiro, ligo o pisca-alerta, peço a ela que fique dentro do carro fechado e desço para olhar. E é verdade: lá está um homem de cerca de uns sessenta anos ou mais, caído em pose estranha, desacordado no asfalto. Verifico que ele respira, mas não me atrevo a tocá-lo (o lugar é ermo, a noite está escura, chove e prefiro esperar que alguém apareça para ajudar).

Imediatamente ligo para190, identifico-me e fico esperando pelo socorro, postada em frente ao corpo, desviando o trânsito para que ninguém corra o risco de atropelar o homem. Assim como eu não o vi de longe, as pessoas também podem não vê-lo, certo? Gesticulo então para cada carro que passa, pedindo-lhes que sigam pela outra pista, evitando um provável atropelamento. Todos que passam olham curiosos para fora do carro, tentando entender o que faz uma mulher no meio da pista às dez da noite, debaixo da garoa, gesticulando como um guarda de trânsito. Sim, todos olham, mas olham sem ver, pois ninguém para, se interessa ou oferece ajuda. Um motociclista mais jovem passa, para, volta e pergunta o que houve. Ao ouvir meu relato e a observação de que já chamei o resgate, segue seu caminho.

O homem acorda, se move e geme; eu pergunto o que houve, se ele está ferido. Ele balbucia coisas que eu não entendo e assim eu permaneço lá, por uns cinco minutos, pedindo a ele que não se levante, que tenha calma. Este é o tempo que leva para uma viatura da PM encostar, logo seguida pelo carro do resgate dos bombeiros. Eles me perguntam o que ocorreu e eu narro os fatos. Os paramédicos (muito grata pela presteza e profissionalismo de vocês!) examinam o homem, colocam-no na maca e se preparam para levá-lo ao hospital. Não fico para ver o final, estou com frio, molhada, abalada e quero ir para casa.

Vou embora pensando: ele é pobre sim, percebe-se pelas roupas gastas, pelo chinelo de dedos velho. Embora eu não tenha sentido cheiro de bebida, ele pode ter bebido e caído, comportamento execrável, certo? Mas não consigo me desvencilhar da idéia de que, seja lá o que for que tenha acontecido, ele é ou foi filho de alguém; ele deve ser pai de outros alguéns e, é quase certo, há pessoas em algum lugar da cidade que esperam por ele, que aguardam preocupadas pela sua volta (ou não, o que seria muito pior). E me lembro que o Natal se aproxima, que todos festejarão a data cristã do amor divino, e confraternizarão desejando paz, alegria e prosperidade aos seus conhecidos, absolutamente indiferentes aos desconhecidos.
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É dia 13 de Dezembro de 2009, faltam apenas doze dias para o Natal, data máxima da cristandade, uma festa de amor, paz e fraternidade.

São sete e meia da noite e eu sigo pela Rua Rafael Braga em busca da casa de um amigo que me acompanhará à festa de Tremembé. Ao fazer o retorno, já quase no fim da avenida, para subir a rua da casa deste amigo, vejo uma criança muito pequena encostada num muro, acocorada e encolhidinha, com cara de choro e absolutamente sozinha.

Passo, olho, paro, dou marcha à ré, estaciono ao lado da calçada e desço, com calma, para não assustá-lo. Ele está descalço, veste uma blusinha de soft (faz frio!) e chupa uma manga meio podre. Pergunto a ele sobre a mamãe e ele chora, misturando o caldo da manga, que não tira da boca, com suas lágrimas. Ele não responde, então pergunto se ele está com algum irmãozinho e ele apenas continua a chorar. É quase um bebê, não tem nem dois anos.

Continuo agachada ao lado dele, olhando em volta, buscando ansiosamente com o olhar alguém que possa estar ligado a ele. É quase noite e fico preocupada. E então vejo vir do fim da rua um garoto de uns oito ou nove anos, só de calção, segurando uma pipa. Ele chega e eu pergunto se ele está com o garotinho. Ele nega, diz que não, e me pergunta: -“Tia, porque você não “pega ele” pra você e leva pra sua casa?” Fico aborrecida e digo a ele que não é assim que as coisas funcionam. Quando digo que vou ligar para polícia vir recolher o garotinho, ele diz que é seu irmão e que está com ele. Duvido, peço a ele que confirme e ele, com naturalidade, diz que saiu pra ir buscar não sei o que, pedindo que o pequeno não saísse dali.

Quando começo a lhe “passar um pito” por ter deixado o garotinho sozinho às margens da movimentada avenida, correndo risco iminente de vida, chega um adolescente de uns quinze ou dezesseis anos, mais bem vestido que os dois, também segurando uma pipa. Ele diz que está com os dois e eu conto o que aconteceu. Ele ri bastante quando digo que o garoto maior me sugeriu levar o pequeno embora comigo, para minha casa. Não acho a menor graça e começo a falar da irresponsabilidade dos dois, já voltando para o carro. E então o garoto menor fala agressivamente, talvez se sentindo subitamente corajoso, amparado pela presença do maior -”Vai embora tia, pega seu carro e some... vai cuidar da sua vida”. E vem em direção ao carro, quando lhe digo que eu acho que ele não tem nem tamanho para saber do que está falando e que eu vou resolver de uma vez o problema da forma certa. Pego o celular e começo a ligar para a polícia. Ele se atemoriza, pega o menorzinho pelo braço e fala –“Ih, tia, a gente já ta indo, a gente já ta indo...” e sai junto com o maior, arrastando o pequenino ainda choroso pelo braço em direção ao fim da avenida. Respiro fundo, dou a partida e sigo meu caminho, com lágrimas incômodas ameaçando brotar dos olhos, tentando compreender (e aceitar, o que é quase impossível) que as coisas são assim.

Numa noite, há 2009 anos, Jesus nasceu pobre, numa manjedoura, mas ele tinha pai e mãe, ele dispunha de proteção e amor e recebeu a visita de Reis. Neste Natal, quantas crianças pequenas estarão chorando encolhidas junto a paredes, solitárias e atemorizadas pela brutalidade dos dias? E nós estaremos festejando junto aos nossos, alheios ao choro alheio e à dor que afligem alguns desvalidos da nossa sociedade. Dois mil e nove anos depois da vinda do Mestre ainda caminhamos errática e lentamente na direção de nos tornarmos seres amorosos, fraternos e verdadeiramente humanos em relação ao nosso próximo.
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“Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.” (Mateus 25:34–36).

A MESMA PRAÇA...

A MESMA PRAÇA...


Bom dia a todos!

Normalmente percorro as ruas do centro da cidade ao menos umas três vezes por mês e meus motivos são banais: as contas a pagar, os badulaques a comprar, os bancos a visitar. Rotina normal, todos nós fazemos isso e, verdade seja dita, nem sempre com muito prazer... depois de algum tempo os pés doem, o barulho irrita, o movimento intenso desgasta e tudo que queremos é ir embora, voltar para casa, deixar de lado o calor e o cansaço.
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Porém, adquiri um hábito que torna minhas pequenas peregrinações comerciais menos chatas, menos cansativas. Sempre que vou á cidade passo pela praça D. Epaminondas, prestando atenção ao que ali ocorre (olhando com os olhos da face e vendo com os olhos da alma), à vida que ali acontece pintada em cores vibrantes, passionais, a la Almodóvar, uma vida recheada de faces, corpos, sabores e sons dos mais variados.
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Já vi de tudo ali: crianças, vestidas de branco, tocando em doces flautas doces algumas cantigas de roda saudosas; meninas meio magricelas, vestidas com roupas brilhantes, tentando seduzir a multidão com uma dança do ventre bonitinha, mas ainda incipiente, decorada, sem espontaneidade (mas sei que isso virá a seu tempo, juntamente com as formas mais fartas e arredondadas que, no tempo propício, tornam o corpo feminino mais sedutor); um desenhista-retratista com seu cavalete, seus papéis, seus lápis e obras acabadas, ganhando a vida com arte e sensibilidade (aplaudo em pé: isso sim é ser fiel à sua alma, ao seu sentir... quantos de nós faríamos isso: viver como gostaríamos de verdade, deixando de lado as ambições desmedidas e os julgamentos alheios?)
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Num outro dia havia um senhor sentado ao pé de uma árvore, tocando simultaneamente uma gaita de boca e um chocalho, produzindo sons interessantes, ritmados, envolventes (em sua caixinha de papel eu deixei dois reais, visto que ele embelezou o meu dia com sua música incomum!); um duo tocando e cantando, sertanejamente, as paixões humanas, físicas, descrevendo suas desventuras amorosas em palavras como “pintei na parede um retrato dela, tatuei no braço o nome dela, guardei no peito a saudade dela...” ou algo assim.
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Já ouvi gente pregando, em alto e bom som, suas pequenas convicções e verdades pessoais aos presentes numa patética tentativa de arrebanhar adeptos novos; já presenciei cantores e cantoras entretendo a multidão com cantigas populares enquanto senhores de mais idade, provavelmente aposentados, discutem calorosamente seus pontos de vista enquanto olham de soslaio para as pernas das mulheres que passam de vestidos curtos.
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Nas Sextas-feiras e nos Sábados, floristas entram e saem da igreja da praça com imensos ramos de belas flores, deixando-nos a imaginar as belas decorações que os noivos providenciam para seus convidados.
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As feiras de artesanato, então, são uma verdadeira festa quando lá estão: crochê, patchwork, pintura em tecidos, bijuterias penduradas nas placas de madeira dos bichos-grilos, pecinhas de gesso ou madeira pintadas de forma divertida, doces caseiros, adesivos colantes e muito mais. Não sou muito (não muito!) consumista, mas já deixei meu suado dinheirinho lá por várias vezes. Sábado passado mesmo eu comprei uma lata para panetone pintada à mão (por isso mesmo mais valiosa) que pretendo dar de presente a uma amiga professora no Natal e comprei também um belo chapeuzinho lilás que pretendo usar nos dias quentes de verão para não queimar minha pele.
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(Cá entre nós, houve um dia em que nesta mesma praça eu até tomei uma lambada de uma sem-teto que tentei ajudar a passar menos frio no Inverno, mas isso é uma longa história que eu prometo contar em outra oportunidade, certo?).
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O que importa mesmo é que a praça é um microcosmo social, um mosaico colorido, mutável, divertido e deveras original a retratar a realidade do nosso povo. Ali a pobreza, a riqueza, o preto, o branco, o velho, o novo, a feiúra, a beleza, o correto, o duvidoso, o bom gosto e o brega se misturam com uma liberdade digna de nota. Há espaço para tudo e para todos e os fatos acontecem democraticamente, sem discriminação.
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E agora então, quando chega o tempo do Natal, a praça ganha algumas árvores decorativas originais, feitas de material reciclável, e recebe também uma carreta que estacionou por lá (com cadeira de Papai Noel, com o próprio e tudo o mais) a nos lembrar que as festas são chegadas e que o ano vai acabar. Chegou aquele tempo do ano que ainda desperta em alguns doces sentimentos de gratidão e reflexão, prometendo momentos de confraternização e alegria, mas que também trás a bordo um consumismo exagerado de bens e uma produção exacerbada de expectativas que nem sempre são realistas ou realizáveis.
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Mas vamos deixar para falar sobre Natal nas próximas semanas, ok? Hoje o importante mesmo é deixar aqui um convite: quando você for ao centro da cidade gaste um tempinho olhando, vendo, ouvindo e sentindo a vida que anima a praça. Compre um algo qualquer de um daqueles artistas, promova e elogie os trabalhos expostos, deixe uma moeda para o artista anônimo e humilde que alí oferece o que tem de melhor dentro de si, cante com os cantores e aplauda os músicos ou dançarinos... nada disso custa muito, só um tempinho de atenção. Seja você também uma pecinha colorida daquele mosaico tão rico, variado e bonito que retrata a vida da nossa gente.

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UM CASAL FELIZ

Bom dia a todos!

A vida é sempre surpreendente, não? Há dias em que pela manhã estamos nos sentindo vencedores, seres maravilhosos, plenos de sucesso. Daí então algo ruim acontece e nos leva a um estado de espírito negativo, escuro. Ou vice-versa: levantamo-nos com aquela sensação de que carregamos o peso do mundo nas costas e subitamente “póim!”: algo de bom acontece e a vida se nos mostra sorridente novamente.

Isso é comum a todos nós, mas pensando bem, me parece que o que nos faz realmente vencedores ou perdedores é a constância com a qual nos entregamos a construir nossos dias, a nossa regularidade em relação às nossas escolhas, nossa perseverança nos mesmos pontos de vista e a nossa entrega ao que fazemos. E penso que foi isto que este casal escolheu fazer: ser sempre fiel ao desejo de amar o outro dedicadamente. Boa leitura a todos.

UM CASAL FELIZ.


Ontem saí às ruas da cidade para buscar algo que não encontrei e que, admito, dificilmente encontrarei: uma forma de gelo dos tempos antigos, daquelas de alumínio, que tinham uma alavanca maneira para soltar os cubinhos de gelo sem esforço. Mais um item entre tantos outros que, sendo corriqueiro na infância, torna-se raridade nos dias práticos, desencantados e artificiais de hoje.

Não, não foi saudosismo exacerbado nem sessão nostalgia; o fato é que acabei de ler os resultados de algumas pesquisas científicas que mostram que a prática de aquecer ou congelar água em recipientes plásticos pode ocasionar a liberação de uma substância cancerígena (não me recordo agora do nome da danada!) na água e, consequentemente, pode nos adoecer seriamente.

Pois é, pra que dar sopa para o azar? E assim, munida das melhores intenções, entrei em umas seis ou sete lojas, todas localizadas próximas ao mercadão de Taubaté e “necas de pitibiriba”, eu não encontrei a tal forminha.

Se não encontrei o que buscava, verdade seja dita: encontrei um outro algo muito raro, interessante e bastante agradável de ver: encontrei um casal feliz, com uma história incomum e inspiradora, atrás do balcão de uma pequena loja (da qual eu também não recordo o nome).

Ocorre que entrei na loja e perguntei sobre a tal forminha, sendo informada que não havia a menor chance de encontrá-la onde quer que fosse dentro da cidade e então, já saindo, percebo que há uma infinidade de modelos de copos para liquidificadores expostos nas prateleiras. Bem, eu tenho um que está parado no armário há uns dois anos por falta de copo e aproveito a chance, perguntando ao lojista sobre o modelo tal da marca tal. E então o balconista, homem de seus cinqüenta e tantos anos, vira-se para a mulher, que aparenta uma idade semelhante e está do outro lado da loja, perguntando gentilmente:

-“Meu amor, você sabe se temos no nosso estoque um copo assim assado?”

E ela responde no mesmo tom de voz tranqüilo, sereno:

-“Espere um pouquinho, meu querido... eu já vou olhar lá nos fundos”.

Instantes depois ela volta, já com a peça nas mãos e diz:

-“Meu bem, eu encontrei... é o último deste modelo, precisamos repor o estoque”.

Ele retira o copo das mãos dela e agradece:

-“Obrigado, querida...”.

E eu fico ali, testemunha muda da ternura e do respeito que flui entre os dois. Observadora e curiosa como sempre, não resisto e pergunto:

-“Desculpem a curiosidade, mas há quanto tempo vocês são casados?”

E ele responde, sem rodeios nem reservas:

-“Atualmente estamos juntos há seis anos!”

-“Atualmente?”

-“Sim, porque nossa história é meio diferente das outras...”

E então começa a narrar as peripécias pelas quais passaram os dois. Namoraram quando jovens por alguns anos, mas por força das circunstâncias, acabaram por romper o relacionamento e acabaram se casando com outras pessoas. Passam-se mais de vinte anos e ambos, cada qual na sua cidade, divorcia-se de seu par e segue sua vida, como centenas de nós o fazemos costumeiramente.

E assim, num determinado momento, movida por aquele sonho indestrutível de ser e fazer feliz que toda mulher possui dentro de si, ela decide-se a fazer uma pesquisa, buscando pelo nome dele nas listas telefônicas e encontra um número. Ela liga, se reconhecem, falam dos anos passados e descobrem que ambos estão livres, disponíveis, e que nunca, jamais, esqueceram-se um do outro.

Desnecessário escrever aqui os detalhes do fim da história, não? Numa apoteose digna dos contos de fadas, eis que uma nova (e grande!) família surge no cenário: ele, suas quatro filhas, ela e suas duas filhas.

Não satisfeita com a narrativa espontânea e agradável, comento que o que me levou a perguntar sobre o casamento deles foi o respeito e o carinho que percebi na relação dos dói (algo incomum nos nossos dias apressados), expresso ali não em um ambiente de festa, de comemoração ou diversão, mas em plena luta diária, atrás de um balcão, onde ambos lutam pelo pão de cada dia, expostos a todo tipo de irritação e frustração, situações que todos enfrentamos no nosso dia-a-dia e que, costumeiramente, nos fazem ficar rabugentos e mal-humorados.

Ele esclarece: após terem passado por casamentos fracassados, ambos aprenderam que o que realmente faz a diferença numa relação não é a quantidade de dinheiro, a boa aparência ou um outro algo qualquer que não a amizade, o carinho, a dedicação e o respeito mútuo. Fala também do empenho consciente em tratar o outro bem, em fazer com que o outro se sinta especial o tempo todo.

Ao vê-los tão conscientes destes valores, tão dedicados à manutenção daquela relação duramente reconquistada, alegremente previ que este convívio compensador e saudável com certeza seguirá adiante, cheio de momentos felizes e de carinho por muito e muito tempo ainda.

Meu blog de papel.

MEU BLOG DE PAPEL.


Sou usuária da internet há muitos anos. Foram muitas as listas de discussões das quais participei, inúmeros os bons amigos virtuais que cultivei e várias as produções que postei na grande rede. Uma vida paralela à vida real infiltrou-se nos meus dias lentamente, a exigir tempo, dedicação, carinho e empenho (tenho por lema pessoal que se vale a pena fazer, vale a pena fazer bem feito!). Uma vida imaterial, virtual, impalpável, mas nem por isso menos valiosa do que a vida física e real, esta que todos vivemos com os pés no chão, problemas na cabeça, amores no coração, filhos a criar e contas a pagar.

Viajei pelo mundo todo e conheci realidades outras em frente ao pequeno monitor do meu computador; estabeleci amizades inesperadas ao trocar idéias, descobrindo afinidades com pessoas de todas as partes deste e de outros países. Também ampliei meu pequeno e limitado mundo pessoal nestas andanças, aprendendo mais e mais sobre de tudo um pouco em minhas pesquisas e viagens virtuais, muitas vezes realizadas em noites insones.

Por muitas vezes ouvi críticas duras à grande rede, principalmente por conta da pornografia e de outras coisas ruins ou perigosas que podemos encontrar dentro dela, mas pensando com isenção de ânimo concluí que, como instrumento, ferramenta ou meio de comunicação, a internet é como tudo o mais na vida: nem boa nem má, ela apenas servirá fielmente aos anseios da mente que dela se utiliza, oferecendo aos seus usuários aquilo que eles buscam e que encontrariam, de qualquer forma, dentro ou fora da internet. Mais uma vez, o coração de cada um estará onde estiver também seu tesouro, certo?

E assim foi que criei e alimentei pacientemente alguns blogs (páginas pessoais onde podemos postar o que desejarmos) para veicular meus pensamentos que, sempre cheios de questionamentos, perplexidades e dúvidas, acreditei que encontrassem eco em outras mentes curiosas e reflexivas. E encontraram, visto o volume de correspondência que recebi ao longo destes anos. Escrevi crônicas, poesias, comentei notícias, intermediei discussões, postei minhas alegrias e tristezas e assim comuniquei-me com o mundo de uma maneira impensável até a alguns anos atrás, graças à tecnologia que hoje nos permite acessar todo o planeta a partir de um clique.

Mas, apesar desta imensa simpatia que nutro pela internet, desejo que fique registrado: nada tenho contra gente de verdade, contra o encontro físico, as palavras, os sorrisos, os abraços, os olhos nos olhos ou os livros de papel. Além de possuir inúmeros amigos de carne e osso, possuo uma vasta biblioteca pessoal e considero meus livros, cds e dvds como meu maior patrimônio (assim como também a maior causa dos rombos no cartão de crédito!) e penso que não há prazer maior para um leitor apaixonado pela leitura do que abrir uma revista, um jornal ou um livro novo, sentindo-lhe o cheiro da tinta e a textura das páginas, numa preparação para o prazer que se encontrará na viagem proporcionada pela história ali contida. Há, então, espaço suficiente no mundo de hoje para o real e para o virtual, concordam?

Equilibradamente, penso que sei separar as coisas, direcionando para cada uma destas realidades apenas a energia e o empenho necessários, dosando tudo com alguma sabedoria. A César o que é de César: se é verdade que a internet é um universo à parte, uma conquista moderna de valor incalculável, também o é que são as pessoas de carne e osso que a tornam possível e que é o contato humano real a base que cria, sustenta e realiza as nossas vidas, nas quais se insere a realidade internet.

Convidada a escrever esta coluna semanal aceitei com prazer, por acreditar que seria mesmo muito bom poder partilhar meus pensamentos com você, leitor do Diário de Taubaté. Mas peço-lhe desde agora um favor: não fique na expectativa de que eu vá brindá-lo com obras-primas da literatura ou com textos de grande brilhantismo e erudição a cada semana, pois eu mesma não cultivo esta vaidade. Almejo apenas ser a colunista que, informalmente e sem pretensões, lhe oferece num dia entretenimento, noutro um ponto de partida para novas reflexões ou ainda, quem sabe, desejo ser a amiga que você encontrará semanalmente aqui, nesta mesma bat-hora e neste mesmo bat-canal para falar da vida em seus múltiplos aspectos, por vezes de forma bem-humorada, por outras melancolicamente. Minha paixão pela Música e pelo Cinema transparecerá algumas vezes; minha indignação com as injustiças e com as incoerências ocasionais da sociedade também; meu apetite voraz pelo que há de espiritual nos dias, pelo aspecto mais transcendente da vida também colocará as manguinhas de fora vez ou outra... eis aqui um rápido “menu” do que virá pela frente.

Creio, porém, que há algo que eu posso afirmar sem chance de errar: a cada semana eu oferecerei a você, sincera e afetivamente, alguns olhares singulares e reflexivos sobre esta nossa vida cotidiana, sempre recheada de situações, pessoas e questões sociais que se renovam a cada minuto. E se há algo que me deixaria muito contente é saber que você pode entrar em contato comigo para comentar, criticar, trocar idéias, complementar ou apenas para dar sinal de vida e dizer o que lhe vai na mente. Para isso deixo aqui meu e-mail e meu convite para que você faça contato:
meublogdepapel@gmail.com

Seja bem-vindo! Puxe uma cadeira, fique à vontade e aceite um cafezinho... de agora em diante nós vamos mais mesmo é prosear!
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