Estou publicando esta coluna meio atrasadinha, pois já estamos em Março e ela foi escrita em Janeiro. Mas tudo bem, idéias não envelhecem e meu ponto de vista não mudou.
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Janeiro chega ao fim e todos nós, os que trabalhamos na área da Educação, já estamos vibrando na energia da volta às aulas. Alguns, satisfeitos com a prática do magistério, já estão cheios de planos para o ano letivo e se sentem contentes por voltar às salas de aulas; outros muitos, abandonados e sabotados pelo sistema mal ajambrado e equivocado, já andam tensos e temerosos em relação àquilo que enfrentarão no decorrer deste ano. Suportarão o desgaste das eternas batalhas que travam com alunos, direção e comunidade para poderem realmente ensinar? Irão agüentar mais um ano de descaso e desatenção, sobrevivendo dolorosamente ao passar dos dias?
Triste este quadro, não é mesmo? Pintado com as cores fortes da desestruturação da família, dos modismos educacionais, do descarte dos valores primordiais da ética, da gentileza, da boa vontade e do amor fraterno, esta paisagem, nem sempre fácil de enfrentar, é a realidade que espera muitos professores neste ano letivo que se inicia. As coisas poderiam mudar para melhor se alguns valores importantes fossem resgatados pela sociedade, se o sistema deixasse de ser complacente em relação à qualidade por conta das intenções eleitoreiras e se as famílias, renovadas por algum sopro divino e miraculoso, compreendessem a necessidade de reassumir com urgência as rédeas da educação de seus filhos, hoje outorgada a qualquer um que não eles, e pudessem oferecer aos filhos uma educação pautada pela qualidade, pelo amor, pela ética e pela integridade.
Sonhar nunca é demais, pois os sonhos são o combustível dos motores que nos levam às melhores mudanças. Por isso transcrevo abaixo um texto muito bom e inspirador (mas sem autoria) que recolhi na internet. Boa leitura!
O Dr. Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi e fundador do MK Gandhi Institute, contou a seguinte história sobre a vida sem violência, na forma da habilidade de seus pais, em uma palestra proferida em junho de 2002 na Universidade de Porto Rico. "Eu tinha 16 anos e vivia com meus pais, na instituição que meu avô havia fundado, e que ficava a 18 milhas da cidade de Durban, na África do Sul. Vivíamos no interior, em meio aos canaviais, e não tínhamos vizinhos, por isso minhas irmãs e eu sempre ficávamos entusiasmados com a possibilidade de ir até a cidade para visitar os amigos ou ir ao cinema.
Certo dia meu pai pediu-me que o levasse até a cidade, onde participaria de uma conferência durante o dia todo. Eu fiquei radiante com esta oportunidade. Como íamos até a cidade, minha mãe me deu uma lista de coisas que precisava do supermercado e, como passaríamos o dia todo, meu pai me pediu que tratasse de alguns assuntos pendentes, como levar o carro à oficina. Quando me despedi de meu pai ele me disse: -"Nos vemos aqui, às dezessete horas, e voltaremos para casa juntos".
Depois de cumprir todas as tarefas, fui até o cinema mais próximo. Distraí-me tanto com o filme (um filme duplo de John Wayne) que me esqueci da hora. Quando me dei conta eram dezessete e trinta. Corri até a oficina, peguei o carro e apressei-me a buscar meu pai. Eram quase seis horas. Ele me perguntou ansioso: -"Porque chegou tão tarde?"
Eu me sentia mal pelo ocorrido, e não tive coragem de dizer que estava vendo um filme de John Wayne. Então, lhe disse que o carro não ficara pronto, e que tivera que esperar. O que eu não sabia era que ele já havia telefonado para a oficina. Ao perceber que eu estava mentindo, disse-me: -"Algo não está certo no modo como o tenho criado, porque você não teve a coragem de me dizer a verdade. Vou refletir sobre o que fiz de errado a você. Caminharei as dezoito milhas até nossa casa para pensar sobre isso".
Assim, vestido em suas melhores roupas e calçando sapatos elegantes, começou a caminhar para casa pela estrada de terra sem iluminação. Não pude deixá-lo sozinho. Guiei por cinco horas e meia atrás dele, vendo meu pai sofrer por causa de uma mentira estúpida que eu havia dito.
Decidi ali mesmo que nunca mais mentiria. Muitas vezes me lembro deste episódio e penso: -"Se ele tivesse me castigado da maneira como nós castigamos nossos filhos, será que teria aprendido a lição?" Não, não creio. Teria sofrido o castigo e continuaria fazendo o mesmo. Mas esta ação não-violenta foi tão forte que ficou impressa na memória como se fosse ontem.
Este é o poder da vida sem violência e com AMOR (respeito pelo outro).
Um comentário:
Guerreira e atenta Érica!!!
Bjo e meu carinho.
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