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Há momentos em que eu gostaria de ter os olhos nublados, os ouvidos moucos e o coração blindado.
Não é sempre que me sinto assim, mas de vez em quando a coisa bate, e bate forte.
Eu me sinto assim, por exemplo, quando ouço falar da tal da “Baita Bobagem Babaca” (ou, para os fãs, o BBB, Big Brother Brasil), esta escola de futilidades, de crueldade, de falta de ética e de moralidade. Em tempo, volto a dizer: não sou moralista, não sou puritana, não sou santa, não sou religiosa e nem sou bozinha demais... e mesmo assim considero um imenso desserviço ao país e aos seus cidadãos a veiculação do tal programa em rede nacional, com tanta divulgação enfiada goela abaixo do público que rumina e vegeta diante das TVs.
Fico perplexa com o tanto de atenção que estes anônimos são capazes de atrair, de Norte a Sul do nosso país. O tal programa é como um imã que canaliza olhos, ouvidos e corações para as realidades toscas ali vividas.
Pelos Deuses, será que a vida das pessoas anda assim tão ruim, tão banal e desinteressante a ponto delas preferirem gastar seu tempo olhando na TV o que pessoas estranhas vivenciam do que vivendo suas próprias aventuras, emoções e experiências? Será que os livros perderão de vez esta batalha contra o monstro televisivo, que mata a palavra escrita e ainda gargalha com escárnio diante de um povo emburrecido e mentalmente enfraquecido?
Não, antes que alguém me pergunte, eu não o assisto, mas basta que estejamos vivos para saber do que se passa na tal casa. As notícias quentes sobre os “heróis’ do Pedro estão no jornal, nas revistas, nos ônibus, no elevador, em todo e qualquer canto.
Não, antes que alguém me pergunte, eu não o assisto, mas basta que estejamos vivos para saber do que se passa na tal casa. As notícias quentes sobre os “heróis’ do Pedro estão no jornal, nas revistas, nos ônibus, no elevador, em todo e qualquer canto.
Alguém já viu tal divulgação e tanta festa em torno dos conteúdos educativos, dos assuntos relevantes, daquilo que pode mesmo erigir e edificar ou melhorar as condições de vida da população? Não, nós nunca vimos, e é isto o que mais dói.
Recursos inimagináveis gastos nesta bobagem num país carente de cultura, de formação, de informação séria. Isso sem contar com o fato de que os telefonemas que as pessoas dão, certas de que exercem algum tipo real de poder ao escolherem fulaninho ou fulaninha rendem; à Vênus Platinada, todos os milhões que faltam ao país para que a saúde e a educação aconteçam de forma digna.
E o que estará fazendo o Bial neste programinha merreca, além de enchendo os bolsos de dinheiro e consolidando a sua popularidade? Jornalismo sério, para ele, é coisa do passado... Ah, sim! Uma das coisas que ele faz à perfeição é tentar redefinir este termo, “herói”. É, porque ao se referir aos habitantes daquela casa infame como “heróis” ou ele está redefinindo o termo ou está desmerecendo aqueles que, antes deste evento infeliz chamado BBB, assim foram chamados.
Este país é sério? Claro que não. Se fosse, além de privilegiar conteúdos melhores em todas as mídias, não estaria chorando junto a população do Rio de Janeiro por conta do incêndio que destruiu a tal cidade do samba e sim arregaçando as mangas com seriedade para sanar os efeitos dos deslizamentos de terra na região serrana no mês passado. Não é mesmo impressionante como uma tragédia daquelas, que privou muita gente de tudo o que tinha na vida, em termos materiais e afetivos, pode ser rapidamente nublada nos noticiários por outro evento muito menor, que priva algumas poucas pessoas de alguma diversão carnavalesca, mas que é lamentado às lágrimas, como se fosse o fim do mundo?
É por estas e outras que ocasionalmente eu gostaria de ver menos, escutar menos, entender menos e me aborrecer menos.
Um dos prêmios que recebemos da vida por dilatar nossa visão de mundo, aguçar nossa mente curiosa e questionadora e sensibilizar nossos corações é este, uma dolorosa solidão e um real distanciamento das coisas ditas normais e legais, das realidades que fazem a festa nas vidas dos alienados e adormecidos.
Tenho um amigo professor que diz convictamente que “felicidade é saúde e ignorância”.
Quer definição melhor? Se o cara é saudável, pode tudo, come de tudo e todas que aparecem, pinta e borda e não se preocupa com nada que vá um centímetro além do seu umbigo ou da tela da sua TV (onde heróis de barro correm pela casa do BBB com microfones pendurados na cintura), como é que ele vai ser infeliz? Ele, que acredita nas mentiras públicas, na mídia perversa, que vive mergulhado na tríade cerveja com churrasco-futebol-sexo, que não tem a menor noção de que há uma realidade paralela muito mais elevada e interessante esperando apenas pelo seu interesse para se mostrar, vai ser infeliz porque?
Na próxima encarnação eu quero nascer (e permanecer) assim: burra, bonita e muito saudável. Claro que daí então eu não estarei aqui, pretensiosamente escrevendo sobre meus perrengues para vocês, Mas tenho certeza de que sempre haverá quem o faça (quiçá com mais talento e brilhantismo do que eu!)
E o que estará fazendo o Bial neste programinha merreca, além de enchendo os bolsos de dinheiro e consolidando a sua popularidade? Jornalismo sério, para ele, é coisa do passado... Ah, sim! Uma das coisas que ele faz à perfeição é tentar redefinir este termo, “herói”. É, porque ao se referir aos habitantes daquela casa infame como “heróis” ou ele está redefinindo o termo ou está desmerecendo aqueles que, antes deste evento infeliz chamado BBB, assim foram chamados.
Este país é sério? Claro que não. Se fosse, além de privilegiar conteúdos melhores em todas as mídias, não estaria chorando junto a população do Rio de Janeiro por conta do incêndio que destruiu a tal cidade do samba e sim arregaçando as mangas com seriedade para sanar os efeitos dos deslizamentos de terra na região serrana no mês passado. Não é mesmo impressionante como uma tragédia daquelas, que privou muita gente de tudo o que tinha na vida, em termos materiais e afetivos, pode ser rapidamente nublada nos noticiários por outro evento muito menor, que priva algumas poucas pessoas de alguma diversão carnavalesca, mas que é lamentado às lágrimas, como se fosse o fim do mundo?
É por estas e outras que ocasionalmente eu gostaria de ver menos, escutar menos, entender menos e me aborrecer menos.
Um dos prêmios que recebemos da vida por dilatar nossa visão de mundo, aguçar nossa mente curiosa e questionadora e sensibilizar nossos corações é este, uma dolorosa solidão e um real distanciamento das coisas ditas normais e legais, das realidades que fazem a festa nas vidas dos alienados e adormecidos.
Tenho um amigo professor que diz convictamente que “felicidade é saúde e ignorância”.
Quer definição melhor? Se o cara é saudável, pode tudo, come de tudo e todas que aparecem, pinta e borda e não se preocupa com nada que vá um centímetro além do seu umbigo ou da tela da sua TV (onde heróis de barro correm pela casa do BBB com microfones pendurados na cintura), como é que ele vai ser infeliz? Ele, que acredita nas mentiras públicas, na mídia perversa, que vive mergulhado na tríade cerveja com churrasco-futebol-sexo, que não tem a menor noção de que há uma realidade paralela muito mais elevada e interessante esperando apenas pelo seu interesse para se mostrar, vai ser infeliz porque?
Na próxima encarnação eu quero nascer (e permanecer) assim: burra, bonita e muito saudável. Claro que daí então eu não estarei aqui, pretensiosamente escrevendo sobre meus perrengues para vocês, Mas tenho certeza de que sempre haverá quem o faça (quiçá com mais talento e brilhantismo do que eu!)
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