Grande Zé Geraldo!
Ao escrever esta canção, cujo título eu tomei por empréstimo para nomear minha coluna de hoje, ele provavelmente pretendia despertar no cidadão médio alguma capacidade de reflexão para a urgência das coisas ditas incomuns, aquelas que fogem à rotina do nosso cotidiano e se escondem dos nossos olhos, mas que merecem um olhar diferenciado de nossa parte.
Ocasionalmente eu componho músicas (já até ganhei alguns festivais) e, quem sabe, um dia eu também componha algo assim necessário, algo assim lúcido como Milho aos Pombos, falando com a poesia necessária sobre as coisas que precisam ser ditas e ouvidas para que algo, talvez, mude algum dia para melhor na nossa sociedade, no nosso planeta.
E eu falaria de muitas coisas... como a dor do outro, que existe para além da minha pele e pela qual eu passo indiferente; coisas como a fome, essa assassina encruada que passeia pelo mundo a ceifar populações inteiras, como as das nações africanas mais pobres, e a matar milhares de crianças em tenra idade todos os dias; coisas como a violência das muitas guerras e revoluções que hoje convulsionam alguns países africanos; coisas ainda como a ignorante violência que, mascarada de religião, oprime e assassina milhares de mulheres todos os dias nos países islâmicos. Se sobrasse inspiração depois de tudo isso, poderia falar ainda do calor do toque de outra mão na minha, de lábios macios sobre os meus, mas não creio que estarei no clima.
Caso eu escreva tal canção algum dia, estarei preparada para o fato de que muitos não gostarão de perceber, na minha canção, entrelinhas plenas de tantos significados e de críticas duras a alguns aspectos sociais e políticos amplamente aceitos e festejados. Devo admitir também que, com certeza, terei composto sem que alguém tenha me pedido isso, tanto quanto ninguém pediu a ele, o Zé Geraldo, para colocar em versos sua opinião sobre os assuntos que ele desnuda em sua letra e nem pediu a ele que levantasse estas lebres todas e as jogasse na cara dos alienados, demonstrando o quanto a cegueira e a acomodação das pessoas pode contribuir para este estado de coisas (mas ele o fez porque este é o papel do artista, do comunicador e de todo aquele que se dirige a algum grupo em algum momento, seja ele um cantor, um autor, um professor, um escritor, um colunista ou um cineasta, o papel de levar idéias e informações incomuns ao público, idéias que funcionem como um fermento no o meio das massas que jazem inertes por falta de formação, informação ou por mero comodismo).
Assim, seguindo os passos de tantos outros que levantaram lebres e agitaram idéias antes de mim (mas provavelmente com muito menor brilhantismo), eu escolho meus assuntos de acordo com aquilo que me ocupa a mente e o coração no momento em que escrevo, sempre buscando presentear o meu leitor com um texto-prisma, um algo cristalino e de várias faces, capaz de refletir a mesma realidade em infinitas nuances e em ângulos caprichosos e incomuns.
Por isso ocasionalmente deixo de lado os aspectos mais belos e poéticos dos dias e falo daquilo que, mesmo podendo ser incômodo para alguns poucos e incomum para muitos, são assuntos que me apaixonam, que me incomodam, que eu estudo e pesquiso porque atiçam minha curiosidade e julgo pertinentes, necessários, abordando-os fraternamente, de maneira fundamentada e sensata. Compartilhar com as pessoas os resultados que obtenho nas minhas pesquisas sobre tais assuntos é muito compensador porque sei que eles são incomuns, que eles não são, em geral, abordados pelas mídias, e eu creio que todas as pessoas do mundo têm o direito de saber um pouco de tudo aquilo que ocorre por aí, seja nos nossos corações, nos nossos corpos, na nossa cidade ou país, no continente ou no planeta... e isso por mais que alguns assuntos pareçam risíveis, estranhos e/ou incômodos.
E mais, eu sinto que estas conclusões a que chego, a partir do meu sentir, das minhas observações e estudos pessoais, não pertencem a mim apenas. Não, elas são universais, são do interesse geral, porque atingem a todos nós, porque alcançam de alguma forma a todos os que aqui vivem e não são um algo ambíguo como um ponto de vista pessoal sobre o amor ou predileção por um partido político ou por um time de futebol, amores que importam ao indivíduo que sente tal amor e a mais ninguém além dele. Meus informes e conclusões são de interesse geral porque abordam o genérico, o universal, o comum a todos nós, por isso julgo útil e agradável partilhá-los.
Assim sendo apertem os cintos, queridos leitores, porque mais questionamentos, notícias incomuns e assuntos espinhosos vêm pela frente. Mesmo por que eles, os fatos, ocorrem independentemente de se acreditar previamente neles e de os desejarmos ou não. .
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