quarta-feira, 24 de novembro de 2010

UM CONTO DE FADAS REALIZADO.

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A internet pode ser aquilo que você quiser: fonte de problemas, de informações, de alegria, de amor ou de inspiração. Como tudo o mais na vida, a grande rede não é boa nem má, é apenas aquilo que você faz dela. Há pessoas que aprendem novas línguas pela internet, enquanto há também as que aprendem a fabricar bombas caseiras. Existe quem se dedique a informar os melhores caminhos na vida em seus blogs e sites e há aqueles que se dedicam a infernizar a vida do seu próximo, veiculando negatividades de todo tipo. Enfim, não são as pessoas que postam conteúdos em suas páginas que o levam por este ou aquele caminho, e sim seus cliques mais ou menos sábios que irão proporcionar-lhe viagens mais ou menos felizes.

Eu tenho sido razoavelmente sábia nas minhas incursões pela rede e, por conta destas escolhas, tenho aprendido muito e compartilhado com gente do planeta inteiro assuntos que jamais teriam chegado até mim de outra forma. E isto é uma dádiva, não é mesmo? Um milagre moderno, eu diria.

Ontem recebi um e-mail com um PPS muito interessante, que me comoveu de verdade, um sopro de vento sobre as brasas agonizantes da minha fé na capacidade humana de amar verdadeiramente. Nele se conta a história de um garoto incomum que, movido por desejos incomuns, realizou uma tarefa também incomum, inspiradora e emocionante. Sem nenhum rótulo religioso ou político partidário, este rapaz fez, em poucos anos de vida, aquilo que milhões de nós jamais realizaremos ao longo de eras. Falo de Ryan Hreljac, o menino que tirou a sede de meio milhão de africanos

Ryan nasceu no Canadá em maio de 1991. Um dia, na escola, quando ele tinha apenas seis anos, sua professora falou à classe sobre como viviam as crianças na África. Profundamente comovido ao saber que algumas até morrem de sede porque não havia poços de onde tirar água, imediatamente comparou sua realidade, onde girar a torneira era suficiente para se fartar de água pura durante horas, com esta nova realidade que se lhe apresentava. E então Ryan perguntou quanto custaria para levar água a eles. A professora pensou um pouco e se lembrou de uma organização chamada WaterCan, dedicada ao tema, e lhe disse que um pequeno poço poderia custar cerca de 70 dólares.

Quando chegou a casa, Ryan foi direto falar com sua mãe, Susan, e lhe disse que necessitava de setenta dólares para comprar um poço para as crianças africanas. Sua mãe disse-lhe que ele deveria consegui-los e foi-lhe dando tarefas em casa, com as quais Ryan ganhava alguns dólares por semana. Ele finalmente reuniu os setenta dólares e pediu à sua mãe que o acompanhasse à sede da WaterCan para comprar seu poço para os meninos da África. Porém, ao ser atendido, Ryan foi informado de que o custo real da perfuração de um poço era de 2.000 dólares.

Susan deixou claro que ela não poderia lhe dar os 2.000 dólares, por mais que ele cortasse a grama e limpasse cristais durante toda a vida. Porém Ryan não se rendeu. Prometeu àquele homem que voltaria… e o fez. Contagiados por seu entusiasmo, todos se puseram a trabalhar: seus irmãos, vizinhos e amigos. Entre todo o bairro, conseguiram reunir 2.000 dólares trabalhando e Ryan voltou triunfante a WaterCan para pedir seu poço.

Em janeiro de 1999 foi perfurado um poço em uma vila ao norte de Uganda. A partir daí começa a lenda. Ryan não parou de arrecadar fundos e de viajar por meio mundo buscando apoios. Quando um novo poço, em Angola, estava pronto, o colégio começou uma correspondência com as crianças do colégio que ficava ao lado do poço, na África. Assim Ryan conheceu Akana, um jovem que havia escapado das garras dos exércitos de meninos e que lutava para estudar a cada dia. Sentindo-se cativado por seu novo amigo, Ryan pediu a seus pais para ir vê-lo.
Com um grande esforço econômico, os pais pagaram sua viagem a Uganda e Ryan, em 2000, chegou ao povoado onde havia sido perfurado seu poço. Centenas de meninos dos arredores formavam um corredor e gritavam seu nome. - “Sabem meu nome?”, Ryan perguntou a seu guia. - “Todo mundo que vive 100 quilômetros ao redor sabe”, ele respondeu.

Hoje em dia, Ryan –com 19 anos- tem sua própria fundação e já conseguiu levar mais de 400 poços à África. Encarrega-se também de proporcionar educação e de ensinar aos nativos a cuidar dos poços e da água. Recolhe doações de todo o mundo e estuda para ser engenheiro hidráulico. Assim, Ryan faz a seu modo muito mais do que estes governantes presunçosos (que conhecemos em toda parte) para acabar com a sede na África.

Inspirador... não começa com “era uma vez”, mas é muito mais perfeito do que o mais perfeito dos contos de fada, não é mesmo?
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PARA ONDE CORREMOS?

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-“Eu ando pela rua e os automóveis correm para quê? As crianças correm para onde?”... assim canta Adriana Calcanhoto, externando em palavras musicais minha perplexidade contemporânea sempre repleta de questões transcendentes e incômodas. Tudo corre: o tempo, as pessoas, os carros, os sentimentos... fica a pergunta: para onde?

Eu ainda posso me lembrar de um tempo em que nos fins de tarde havia cheiro de café e bolo de fubá fresquinho, postos sobre a toalha de tecido limpo e cheiroso, seco num varal ao sol. Era um tempo em que quase tudo girava em torno de coisas hoje consideradas tolas, na verdade tão importantes quanto o ar que respiramos: amizade, convívio familiar, alegria de conviver, afeto, apoio mútuo e bem-querer.

(Hoje, a roupa é seca na secadora elétrica e tem cheiro de amaciante: o café sai das máquinas caras das cafeterias e é servido pelas mãos experientes, profissionais e frias de um barista, e o bolo de fubá, industrializado, perdeu o encanto daquele sabor caseiro, proporcionado pelas sementinhas de erva-doce e pelo carinho de quem o produzia.)

O tempo passou e junto com ele se foi a poesia, a leveza, a integridade das pessoas, a claridade dos dias. Em troca o progresso nos trouxe coisas outras, tais como a insônia, o stress, a síndrome de pânico e a depressão. Brindes modernos estes, que recebemos gratuitamente já quando aportamos no cais da adolescência, que é quando começamos a ser cobrados como adultos pelo mundo que nos cerca. Sim, pois todo adolescente que se preza hoje cursa aulas de Inglês, Informática, cursinho, escola, baladas, tem vida social e amorosa intensas e faz de tudo para ser um clone bem sucedido das figuras globais, ícones de uma estética artificial e enlatada que acomete de desespero todos aqueles que, por infelicidade, não se adaptam ao modelo imposto.

Andamos tão apressados, desatentos e sobrecarregados de cobranças sociais, que me parece imprescindível perguntar: você já se perguntou alguma vez o que está fazendo com sua vida?
Para onde exatamente você está se encaminhando?

Os valores mudaram tanto que, ocasionalmente, fico estarrecida ao ver o quanto nos perdemos de nós mesmos. Parece que nós nos esquecemos de sentir, de cheirar, de parar para olhar, parar para viver e respirar, de parar para realmente vermos algo e nos surpreendermos com os milagres diários, de parar para nos emocionarmos. E por que, hoje em dia, nós não nos surpreendemos, nem sentimos, nem mergulhamos profundamente nas experiências, nem vivemos mais e mais? Pode ser que seja porque esperamos, equivocadamente, que um brilho mágico de glitter ou néon venha de fora para nos iluminar e enfeitar, enquanto que, na verdade, é apenas de dentro de nós que alguma luminosidade pode surgir.

Alheios a esta verdade, seguimos acomodados às expectativas alheias impostas pelo meio, expectativas que já vêm enlatadas com os conservantes do mais puro delírio social, enquanto aguardamos o lançamento da “felicidade instantânea”, quiçá vendida em pacotinhos tetrapack a preços módicos.

Construir a própria felicidade trabalhando, correndo riscos, pensando, questionando valores, ousando e abrindo o peito ao bom e ao novo? Qual o quê! Nada disso, pois sempre será mais simples nos atermos à banalidade do usual, do comum e amplamente aceitável, para sermos festejados e consumidos por outros seres tão tacanhos e, porque não dizer, covardes quanto nós.
Presos a valores risíveis e insanos, nem temos tempo de raciocinar, de refletir, repensar ou de escolher livremente, pois não podemos amar o azul num mundo só de amarelos, sob o risco de sermos considerados “estranhos” ou “anormais”. Não temos tempo nem vontade de enxergar as mil maneiras diferentes pelas quais estamos matando o romantismo, a fraternidade, o planeta e a vida, tal como a conhecemos.

Vivemos assim, no “piloto automático”, fazendo só e tão somente aquilo "que deve ser feito", prioridade sempre definida pelo meio e pelo outro, nunca por nós mesmos, os mais prováveis soberanos dos nosso destinos. Optamos sempre por aquilo que nos é mais fácil, que é aceito e festejado pela família e pelo padrão social.
Eternamente apegados à mesmice generalista, vivemos para satisfazer estas expectativas pré-fabricadas que o meio nos impõe. Esquecemos-nos dos nossos corações e da nossa pura criança interior. Eles também têm voz e querem falar mais alto, mas nós os silenciamos quando ignoramos o privilégio de podermos abandonar, a qualquer momento, o caminho predeterminado pela “matrix”, sem dever nada a ninguém e sem nos atermos ao orgulho vazio de sermos apenas aquilo que esperam de nós.

Diuturnamente testemunho sonâmbulos andando e colidindo entre si nas calçadas repletas de qualquer cidade. E sempre me espanta o número de mortos vivos que dirigem, orgulhosos e vaidosos, seus reluzentes carros do ano, indo e vindo em alta velocidade de não sei onde para lugar algum.

Vejo também, com certa compaixão, homens de terno que correndo pelas ruas sob o Sol abrasador, como quem corre num pesadelo (e sem saber do que!), enquanto mulheres de todas as etnias tentam ficar loiras, jovens (mesmo aos cinqüenta ou sessenta anos) e palatáveis aos machos de plantão, não se importando com a qualidade das relações afetivas que construirão em cima de tantos enganos e ilusões.

A verdade é que, de certa forma, estamos nos tornando marionetes da ilusão, andróides impessoais, repetindo sem parar padrões consagrados. Conseguimos nos industrializar, nos pasteurizar, abolindo o brilho das nossas almas e nublando nossa capacidade de reflexão pessoal. Mas saiba: você sempre pode escolher despertar e não se submeter, portanto, acorde para sua realeza pessoal, sinta mais e pense menos, reflita mais e aceite menos as sugestões da matrix, escolha por si mesmo cada um dos seus passos.

Comece escolhendo a sua comida, suas roupas e seu cabelo, sem se prender ao padrão global ou aos letreiros nas praças de alimentação. E vá, aos poucos, resgatando sua autonomia de cocriador da existência, vivenciando seus aspectos divinos, extraindo de si e da vida aquilo que de melhor puder extrair. Siga vivendo, enfim, com mais poesia e entrega, com mais atenção aos momentos, fruindo os fatos da vida em vez de atropelá-los.

E saiba: só você pode fazer isso por você, ninguém poderá ajudá-lo nesta tarefa. Assim, sugiro que você arregace as mangas e comece agora o mais importante trabalho da sua vida, o de resgate daquele ser divino, pleno e reflexivo que você sempre foi. Ah, e um detalhe: faça isto enquanto é tempo, ok?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

PAPO ARANHA.

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Televisão é tudo de bom, não é mesmo? Não fosse por ela, quem iria ensinar nossas crianças a exigirem brinquedos caros desde cedo? A dançarem a dança da bundinha aos cinco anos de idade e a terem comportamentos eróticos aos dez?
Não fosse por ela, o que seria destas nossas vidinhas patéticas e condicionadas? Como iríamos saber o que está ou não na moda, o que devemos comer, como devemos dormir, amar e nos relacionar? Se há um Deus universal hoje em dia ele está na televisão, diluído entre o meio e a mensagem, regendo as vidas de bilhões de pessoas. Então, vamos louvá-lo... plim-plim!

Enquanto droga que cria dependencia, enquanto circo e picadeiro, ela, a televisão, vai seguindo em frente como a mais fecunda fonte de alienação e desinformação que esta a humanidade já possuiu. Ela segue impávida, altiva, manipulando os fatos e as imagens ao seu bel prazer, exibindo na telinha apenas aquilo que deseja veicular, aquilo que é útil no sentido de tornar mais e mais mansos e manipuláveis os seres humanos, todos eles compradores em potencial, consumidores vorazes de tudo aquilo que se produza e se divulgue na mídia, desde os chocolates caríssimos às rebimbocas das parafusetas da vida.

Recheada de reality shows (programinhas medíocres que impulsionam todos os dias para o estrelato instantâneo pencas de energúmenos bonitinhos) e de novelas permeadas de mentiras (onde as casas são imaculadamente arrumadas, como se ninguém morasse ali) e de pessoas pobres e miseráveis que se vestem bem e são bonitas, a televisão se afirma como produto indispensável ao cotidiano das massas.

Em seus boletins informativos, cuida para que as notícias veiculadas sejam apenas as que interessam aos poderosos, deixando de lado as que podem ser potencialmente perigosas aos poderes constituidos, aquelas que poderiam alertar o incauto telespectador sobre a matrix em que ele está mergulhado, e vai, entre comerciais bonitos e mentirosos sobre a qualidade de produtos nocivos à saúde ou à sociedade, se infiltrar no psiquismo humano desde a mais tenra idade.

Programas educativos? Ah, eles existem sim, e insuficientemente, aqui e ali. Onde mesmo, hem? Nos primeiros horários da manhã, quando apenas aqueles que não trabalham podem assistir. E estes, crianças em sua maioria, como não trabalham e não têm interesse algum pelos conteúdos destes programas, dormem até mais tarde, tornando absolutamente inócua a tentativa de se facilitar algo de bom e útil ao telespectador.

E eis que, para piorar o quadro (se é que isso é possível), os canais da TV paga (último reduto da probabilidade de alguma vida inteligente dentro deste contexto), ao desejarem manter uma imagem moderna e atualizada, criam programas onde gente “do povo” bate papo, descontraidamente, diante das câmeras, abordando “temas de interesse”.

Outro dia, já era mais de meia noite, eu estava zapeando aqui e ali, sem sono, e acabei sintonizando o canal da Globo, o Multishow, exatamente quando se iniciava um programa chamado “Papo calcinha”.

–“Ops, o título é interessante, original, ao menos vale uma olhada”, pensei.

Ledo engano. Na tela, quatro moças de classe alta, bonitas, bem vestidas, cheias de caras e bocas (verdadeiras caricaturas sociais), “resolvidas”, descoladas e emancipadas, discutiam abertamente suas reações na hora do orgasmo, na hora do “ai Jisuis”.

E falaram amplamente, sorrindo e sem grandes pudores, sobre suas lágrimas de prazer, sobre as práticas incomuns que vivenciaram, sobre como se davam aos seus homens, (alguns quase desconhecidos por elas) sempre buscando a todo custo “gozar” desta e daquela forma, com ou sem lágrimas nos olhos, deixando claro que nada se buscava nestas relações além deste gozo, deste prazer, onde o corpo do outro é reduzido a brinquedo sexual, a objeto para uso e descarte.

Embora eu não seja puritana, não vou repetir aqui o que elas falaram em seus exatos termos, visto que desejo deixar espaço para a criatividade de cada um. Mas peço que vocês sejam muito generosos na hora de imaginar os termos usados nesta conversa íntima entre as quatro amigas adultas, saudáveis, liberadas, que trocaram figurinhas sobre suas aventuras sexuais apimentadas.
Legal essa cumplicidade, essa abertura, este poder trocar experiências com as amigas, não é? Conteúdo adulto, nada demais.

Legal mesmo? Poderia até ser legal,não fosse pelo fato de isso te sido feito em frente às câmeras de televisão que veicularam para milhões de pessoas as intimidades toscas que essas mulheres viveram entre as suas pernas, pelo Norte e pelo Sul, na cama de qualquer um.

Onde foi parar o sentido de intimidade, de privacidade? Onde foi parar aquela coisa boa de se ter uma amiga fiel, confidente, aquela a quem contávamos sussurrando, em segredo, nossas peripécias? Estará o mundo hoje tão frio e vazio de afetos e amizades que o melhor que podemos fazer é compartilhar, com milhões de estranhos e uma câmera de TV, aquilo que nos toca mais profundamente o corpo e a alma? Estarão as pessoas tão ávidas pela oportunidade de virarem celebridades instantâneas que até se desnudar, de forma vulgar e rasa, num programa de TV, está valendo a pena?

Tristes tempos estes, em que a televisão reina nos lares, a necessidade de reconhecimento público embriaga as pessoas e a insensatez impera nas mentes e corações. O melhor botão da televisão, hoje em dia, é o “desliga”.
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Bom dia leitores.

Pela graça do Senhor já se foram as eleições. A propaganda eleitoral acabou e a vitória da “dama do pt” se fez. Em relação a mim a contragosto, pois não gostei de ver vencer alguém que coleciona em seu passado assaltos a bancos, seqüestros, episódios de tortura e outras coisinhas assim leves. Ver assumir a presidência do meu país alguém deste quilate (alguém pior do que eu mesma, visto que sou incapaz deste tipo de violência, mesmo para defender ideologias), me fez desacreditar de vez nas construções humanas.

Mas isso não vem ao caso, pois é certo que política, religião, futebol e gostar de arroz com piqui são assuntos que não se discute.

O que eu gostaria mesmo de ver, em termos de administração, era um governante eleito, (de esquerda, direita, centro, acima, abaixo, de dentro ou fora, tanto faz, já que dá tudo na mesma meleca), abrir os olhos ao que realmente importa em termos humanos, em termos de valorização da vida. Mas já desisti disso também, pois os números importam mais que as pessoas a todos os administradores.

Porém, não abri mão ainda da pequena esperança que nutro em relação ao coração das pessoas comuns, aquelas que como eu enfrentam a vida cotidiana com o coração aberto ao novo e ao belo, que batalham pela melhoria do ambiente onde estão, que nutrem sincero carinho pelo próximo, que agem com ética, mesmo ás custas de imensos sacrifícios pessoais.

Assim, peço licença para dar passagem ao texto de Thiago de Mello, para deixar aqui uma sugestão singela de valores a se privilegiar no nosso cotidiano, por mais que lá fora as coisas sejam diferentes.

(E não me venham falar sobre as implicações políticas deste texto, visto que eu o leio com olhos desapaixonados, distantes destas convenções. Se o texto foi ou não revolucionário, se foi escrito por este ou por aquele motivo não me importa, porque a qualidade das verdades do que ele contém transcende, em muito, momentos e intenções).


Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)

por Thiago de Mello

Artigo I - Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II - Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III - Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV - Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. (Parágrafo único: O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino).

Artigo V - Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI - Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII - Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII - Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX - Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X - Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.

Artigo XI - Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII - Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. (Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor).

Artigo XIII - Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final. - Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

(Santiago do Chile, abril de 1964)
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SOBRE CRIANÇAS E PROFESSORES.

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E eis que comemoramos, dias atrás, os dias da Criança e do Professor. Dias de grande apelo comercial, diga-se de passagem, pois é quando o comércio vende brinquedos ás toneladas para pais ansiosos por agradarem a seus filhos e (nem tanto ás toneladas) pequenos mimos para algumas mães presentearem aqueles e aquelas que, com seu trabalho, educam e preparam para o futuro seus pequenos filhos e filhas.
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Crianças e professores! Eis a fórmula perfeita para o desenvolvimento harmonioso de uma sociedade, para a criação de uma cultura de Paz, para a edificação de um amanhã vitorioso e melhor do que hoje.
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E não é isso que temos aos montes em cada canto do país, escolas lotadas de alunos e professores? Então por que, pergunto eu, nem tudo corre como deveria correr, nem tudo resulta como o esperado, nem tudo é aquilo de bom que poderia ser? Porque o que vemos no nosso dia a dia não espelha a realização destas esperanças?
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Pode ser porque as nossas crianças de hoje, em vez de terem pai e mãe dentro de casa, vivem com estranhos quase o dia todo, relacionando entre seus contatos mais próximos as avós, outros parentes, babás, tias da creche ou até mesmo vizinhos... ou também porque, em vez de brincarem de bonecas, cantarem cantigas de roda ou brincarem de pique - esconde, mãe da rua, balança caixão e pega-pega gastam seu tempo livre dançando, desde os cinco ou seis aninhos, a “dança da bundinha” com requintes de sensualidade, “conversando” o dia todo pelo computador com estranhos distantes ou jogando videogame, isolados nos sofás de suas salas, que é onde acontecem as maiores façanhas e aventuras de suas vidas.
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Ocorre também que uma das razões para que as coisas não sejam como deveriam seja que os professores se tornaram meros peões do tabuleiro de xadrez da nossa sociedade politiqueira, onde a educação pública é moeda corrente nos contratos eleitoreiros daqui e dacolá. Peões, diga-se de passagem, altamente descartáveis, em qualquer tempo e por qualquer razão, pois a sociedade de hoje tem o professor como um mero coitado mal preparado que, por bem ou por mal, atende aos seus filhos no horário escolar e que nunca, nunca mesmo, é digno do apreço e da gratidão por parte dos mesmos pais que se omitem na hora da educação familiar, do convívio em casa, da exemplificação.
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Outro motivo possível que me ocorre para o fracasso desta mistura "criança-professor" é o discurso tacanho dos poderes públicos, que usa as “inclusão”, “escolarização”, “democratização” e outras semelhantes, como justificativas débeis para todo e qualquer desmando imposto aos profissionais da educação, aos que labutam em sala de aulas todos os dias e que realmente sabem onde o sapato aperta (isso quando há sapato!) na hora de educar.
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E vejam bem, este profissional que nunca é ouvido, que nunca ganha o suficiente para o tamanho do trabalho que ele realiza, que nunca é valorizado como o ser de polivalente ação e importância que ele é, é justamente aquele que não desiste, que continua indo em frente mesmo quando é mal tratado pelos alunos, esculachado pelas administrações e espezinhado pela comunidade à qual atende.
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É ele quem não deixa a peteca cair apesar de tudo. É ele quem engole os sapos administrativos que querem sempre maquiar os índices e mostrar uma “realidade colorida”, quando na verdade as coisas são pardas ou cinzentas. Se tudo não está pior é por conta deste professor que age nas salas de aulas ministrando o saber acadêmico, acolhendo os sem família e tentando equilibrar a prática do magistério com a sanidade mental.
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Bem, não tenho mesmo a pretensão de saber onde estão e quais são as falhas que causam a falência da Educação no Brasil (posso até saber através da minha experiência pessoal, mas não penso que expor minha opinião sobre isso aqui seja de alguma utilidade), porém sei que posso afirmar que crianças bem direcionadas, educadas por mestres competentes, são e sempre continuarão sendo nossa única esperança de dias melhores, de uma sociedade mais justa e pacífica, mais tolerante e criativa. Porque aquilo que a Educação não construir, nada mais poderá realizar.
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Para os meus colegas professores, mesmo atrasada: FELIZ DIA DO PROFESSOR! Para aqueles que são hoje as sementes do amanhã, FELIZ DIA DAS CRIANÇAS. E meu maior desejo é ver vocês cumprirem de forma plena, meritória e brilhante os seus papéis, para que um futuro mais belo e amplo seja possível.
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