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(dedicada ao coral Mensageiro da Amizade)
Hoje é quarta-feira, dia de escrever a coluna para o jornal de amanhã. Estou tremendamente resfriada (os olhos lacrimejam, o nariz arde, o ouvido e a garganta doem) e isso não me parece um bom ponto de partida para escrever, já que geralmente fico mal-humorada, chata e pessimista quando gripada. Porém, como esta coluna é um algo que eu desejo que seja um ponto positivo no dia dos leitores, trato de botar um cabresto na mente indisciplinada, trancafiando no porão da alma a rabugice e o mau-humor. E me ponho a tentar visualizar as coisas boas da minha vida, aquelas mais legaizinhas e amenas, as que fazem meus dias valerem a pena.
E então me recordo do ensaio do coral de ontem, quando mais uma vez estive com minhas meninas maravilhosas para ensaiar músicas variadas para a missa do dia das mães. Sim, eu dirijo um coral de vozes femininas. De vozes femininas por mera falta de quorum masculino, diga-se de passagem. Taí, esta é uma pergunta que se impõem (responda quem puder!): porque é que em todos os corais as vozes masculinas são escassas? Corais sofrem sempre de falta crônica de homens, isso é fato, e eu me pergunto se isso é devido à vergonha de cantar ou à falta de sensibilidade para o belo. Não sei, não sei... só sei que quem canta os males espanta, que quem canta reza duas vezes e que cantar mantém a alma alegre, o coração feliz e a mente jovem. Pobres homens, nem sabem o que estão perdendo!
Mas deixem-me falar um pouco das minhas meninas: elas vêm de vários cantos da cidade para compartilharem com amor um canto em comum, são muito dedicadas, ensaiando com afinco, sempre atentas às minhas indicações, dando o melhor de si em cada nota e em cada frase musical. Das modas de viola às musicas em latim, elas seguem persistentes e alegres, saltando os obstáculos, superando as dificuldades e fazendo com carinho o trabalho paciente de construir, com os sons de suas vozes, as tramas do tecido musical que irá alegrar e sensibilizar os ouvidos de quem as prestigiar com sua presença.
Como todas as meninas, elas têm obrigações caseiras: cuidam dos parentes, fazem o serviço de casa, fazem compras e mantém a vida andando, sempre nos trilhos. De vez em quando alguma delas falta ou se atrasa, vindo logo pedir desculpas (como se isso fosse necessário, como se eu não soubesse que viver é imprevisível, que a vida nos brinda todos os dias com o bom e o mau, com o fácil e o difícil, com a alegria e com a tristeza). Não, queridas meninas, não é necessário explicar nem justificar: eu sei que todas cantam por amor. E também sei que o que se faz por amor a gente só deixa de fazer quando é absolutamente inevitável, certo?
Elas também são vaidosas, como convém a uma menina: aparecem de vez em quando de chapéu, de lencinhos aqui e ali, de saias e blusas bonitas, baton vermelho ou cor-de-rosa e cabelos sempre arrumadinhos. Roupas coloridas, tudo sempre combinando.
O que mais encanta nelas é que a alegria que elas ostentam em nossos encontros é perene, resistente, pois apesar dos percalços da vida nenhuma delas é amarga ou triste, cinzenta: não, são leves como plumas, são simpáticas e acolhedoras. E olhem que isso não é nada fácil para quem já viveu o que elas viveram: criaram filhos, netos, talvez bisnetos. Já perderam os pais há anos, perderam irmãos, maridos, algumas perderam filhos. Passaram pelas perdas que a vida impõe a todos nós, mas não perderam o que havia de melhor em si: a vontade e a alegria de viver. E mais do que apenas viver: viver bem, produzindo beleza, amizade e alegria aos sessenta, setenta, oitenta ou noventa anos de idade.
Minhas meninas têm muitos nomes: Tereza, Orlanda, Maria, Darci, Aparecida, Dione, Clarinda, Francisca, Nair, Irene... são muitas meninas e muitos nomes, não dá para colocar todos aqui. E esses nomes, se tudo correr bem, serão ainda mais numerosos no futuro.
Meninas queridas, a vocês eu deixo meu abraço mais amoroso. E a você, leitor, eu desejo a sorte de um dia poder encontrá-las num palco qualquer, de poder ter a oportunidade de partilhar com essas meninas especiais um pouco da beleza que elas são capazes de produzir.
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Hoje é quarta-feira, dia de escrever a coluna para o jornal de amanhã. Estou tremendamente resfriada (os olhos lacrimejam, o nariz arde, o ouvido e a garganta doem) e isso não me parece um bom ponto de partida para escrever, já que geralmente fico mal-humorada, chata e pessimista quando gripada. Porém, como esta coluna é um algo que eu desejo que seja um ponto positivo no dia dos leitores, trato de botar um cabresto na mente indisciplinada, trancafiando no porão da alma a rabugice e o mau-humor. E me ponho a tentar visualizar as coisas boas da minha vida, aquelas mais legaizinhas e amenas, as que fazem meus dias valerem a pena.
E então me recordo do ensaio do coral de ontem, quando mais uma vez estive com minhas meninas maravilhosas para ensaiar músicas variadas para a missa do dia das mães. Sim, eu dirijo um coral de vozes femininas. De vozes femininas por mera falta de quorum masculino, diga-se de passagem. Taí, esta é uma pergunta que se impõem (responda quem puder!): porque é que em todos os corais as vozes masculinas são escassas? Corais sofrem sempre de falta crônica de homens, isso é fato, e eu me pergunto se isso é devido à vergonha de cantar ou à falta de sensibilidade para o belo. Não sei, não sei... só sei que quem canta os males espanta, que quem canta reza duas vezes e que cantar mantém a alma alegre, o coração feliz e a mente jovem. Pobres homens, nem sabem o que estão perdendo!
Mas deixem-me falar um pouco das minhas meninas: elas vêm de vários cantos da cidade para compartilharem com amor um canto em comum, são muito dedicadas, ensaiando com afinco, sempre atentas às minhas indicações, dando o melhor de si em cada nota e em cada frase musical. Das modas de viola às musicas em latim, elas seguem persistentes e alegres, saltando os obstáculos, superando as dificuldades e fazendo com carinho o trabalho paciente de construir, com os sons de suas vozes, as tramas do tecido musical que irá alegrar e sensibilizar os ouvidos de quem as prestigiar com sua presença.
Como todas as meninas, elas têm obrigações caseiras: cuidam dos parentes, fazem o serviço de casa, fazem compras e mantém a vida andando, sempre nos trilhos. De vez em quando alguma delas falta ou se atrasa, vindo logo pedir desculpas (como se isso fosse necessário, como se eu não soubesse que viver é imprevisível, que a vida nos brinda todos os dias com o bom e o mau, com o fácil e o difícil, com a alegria e com a tristeza). Não, queridas meninas, não é necessário explicar nem justificar: eu sei que todas cantam por amor. E também sei que o que se faz por amor a gente só deixa de fazer quando é absolutamente inevitável, certo?
Elas também são vaidosas, como convém a uma menina: aparecem de vez em quando de chapéu, de lencinhos aqui e ali, de saias e blusas bonitas, baton vermelho ou cor-de-rosa e cabelos sempre arrumadinhos. Roupas coloridas, tudo sempre combinando.
O que mais encanta nelas é que a alegria que elas ostentam em nossos encontros é perene, resistente, pois apesar dos percalços da vida nenhuma delas é amarga ou triste, cinzenta: não, são leves como plumas, são simpáticas e acolhedoras. E olhem que isso não é nada fácil para quem já viveu o que elas viveram: criaram filhos, netos, talvez bisnetos. Já perderam os pais há anos, perderam irmãos, maridos, algumas perderam filhos. Passaram pelas perdas que a vida impõe a todos nós, mas não perderam o que havia de melhor em si: a vontade e a alegria de viver. E mais do que apenas viver: viver bem, produzindo beleza, amizade e alegria aos sessenta, setenta, oitenta ou noventa anos de idade.
Minhas meninas têm muitos nomes: Tereza, Orlanda, Maria, Darci, Aparecida, Dione, Clarinda, Francisca, Nair, Irene... são muitas meninas e muitos nomes, não dá para colocar todos aqui. E esses nomes, se tudo correr bem, serão ainda mais numerosos no futuro.
Meninas queridas, a vocês eu deixo meu abraço mais amoroso. E a você, leitor, eu desejo a sorte de um dia poder encontrá-las num palco qualquer, de poder ter a oportunidade de partilhar com essas meninas especiais um pouco da beleza que elas são capazes de produzir.
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