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Eis aqui uma constatação tão óbvia quanto simples: todos nós estamos sujeitos a muitas mudanças ao longo da vida. Mudam os amigos, mudam os cortes de cabelo; muda a moda, mudam as gírias; mudam as fases da Lua, mudam os governos e os dirigentes políticos; mudam os artistas das novelas, mudam os amores e os desafetos. Mudanças, mudanças... não sei não, mas penso que toda mudança, seja lá em que nível for, é incomoda, assustadora e preocupante. E os seres humanos são, em sua grande maioria, ávidos por estabilidade, pela mesmice, pela segurança ilusória que nos dá encontrar as mesmas coisas, as mesmas pessoas e a mesma rotina todos os dias.
O antigo pede apenas hábito, paciência, repetição e determinação; já o novo exige adaptação, exige flexibilidade, solicita aceitação e espírito de aventura. Abrir mão do que já foi importante, deixar ir algo que já não nos serve mais, abandonar posturas, objetos, relações desgastadas ou sonhos hoje inúteis é doloroso, é aventuresco, é incerto... deixar ir embora o conhecido para abrir as portas ao novo é tudo que nós, humanos, não sabemos encarar sem tremer na base. Mas há aqueles inevitáveis momentos em que o antigo pesa como chumbo, incomoda, irrita, entristece; há fases na vida em que mudar é imperativo, necessário, inevitável mesmo, e o medo e a preguiça são trancafiados nos porões da mente e pulamos resolutamente no vazio do novo, ansiosos e esperançosos.
E esse foi meu caso nesta semana: eu precisei mudar de casa. Nada de novo para mim, sou campeã neste tipo de coisa: já perdi a conta das casas em que morei nestes meus quase cinqüenta anos. Provável herança do meu pai, que não sabia parar por muito tempo no mesmo lugar, esta necessidade de mudar me persegue como um fantasma, mantendo-me sempre às braçadas por sobre as ondas da vida. Penso que todo mundo tem que ter raízes e asas, mas as minhas raízes são curtas demais enquanto que as asas são grandiosas e ávidas por vôos... preciso equilibrar isso, certo?
Verdade seja dita: desta vez não me mudei por mera vontade de mudar, mas por necessidade mesmo. Vizinhos barulhentos, incômodos e invasivos, somados a uma casa inadequada, me levaram a sair do comodismo para procurar um lugar melhor para viver. E então me vi novamente envolvida naquele torvelinho (odioso torvelinho, diga-se de passagem!) de caixas, sacos de roupa e objetos mil. Livros incontáveis, muitos cds, centenas de dvds... e outras coisinhas banais que eu não me lembrava mais que existiam. Encontrei muito lixo, tranqueiras e coisas inúteis, mas (que bom!) encontrei também gratas lembranças, subitamente resgatadas pelas operações de empacotamento e desempacotamento. Fotos dos meus filhos pequeninos em festas de aniversários, reuniões de amigos e passagens de ano; certificados de “melhor mãe do ano”, carinhosamente assinados pela letra trêmula dos pequenos; cartões de aniversário engraçadinhos, fazendo piadas com a passagem dos anos; trabalhinhos escolares com mãozinhas decalcadas em guache; cartinhas antigas que rememoram momentos divertidos e emocionantes da vida familiar. Memórias visuais que vêm para remexer o fundo do ser, para ressuscitar sentimentos semimortos, para fazer viver novamente por alguns momentos o que já passou, mas deixou saudades.
Admito que estou fisicamente muito cansada de separar coisas para jogar fora ou para doar; estou exausta de limpar, faxinar, desempacotar e guardar coisas que parecem não acabar nunca; estou totalmente dolorida (mentira, as pálpebras e a língua não doem!) e absolutamente esgotada com o trabalho duro que isso tudo dá, mas minha alma está feliz: além de inaugurar uma nova fase na vida (torçam por mim para que ela seja boa!), eu encontrei em meio a este lufa-lufa muitas coisas legais nas minhas caixinhas de fotos, documentos e guardados: encontrei alguns pedacinhos de amor que eu adorei rever e que, de agora em diante, visitarei com mais frequência, sem esperar que outra catástrofe pessoal do tipo “mudança” me chacoalhe para que eu as resgate.
Eis aqui uma constatação tão óbvia quanto simples: todos nós estamos sujeitos a muitas mudanças ao longo da vida. Mudam os amigos, mudam os cortes de cabelo; muda a moda, mudam as gírias; mudam as fases da Lua, mudam os governos e os dirigentes políticos; mudam os artistas das novelas, mudam os amores e os desafetos. Mudanças, mudanças... não sei não, mas penso que toda mudança, seja lá em que nível for, é incomoda, assustadora e preocupante. E os seres humanos são, em sua grande maioria, ávidos por estabilidade, pela mesmice, pela segurança ilusória que nos dá encontrar as mesmas coisas, as mesmas pessoas e a mesma rotina todos os dias.
O antigo pede apenas hábito, paciência, repetição e determinação; já o novo exige adaptação, exige flexibilidade, solicita aceitação e espírito de aventura. Abrir mão do que já foi importante, deixar ir algo que já não nos serve mais, abandonar posturas, objetos, relações desgastadas ou sonhos hoje inúteis é doloroso, é aventuresco, é incerto... deixar ir embora o conhecido para abrir as portas ao novo é tudo que nós, humanos, não sabemos encarar sem tremer na base. Mas há aqueles inevitáveis momentos em que o antigo pesa como chumbo, incomoda, irrita, entristece; há fases na vida em que mudar é imperativo, necessário, inevitável mesmo, e o medo e a preguiça são trancafiados nos porões da mente e pulamos resolutamente no vazio do novo, ansiosos e esperançosos.
E esse foi meu caso nesta semana: eu precisei mudar de casa. Nada de novo para mim, sou campeã neste tipo de coisa: já perdi a conta das casas em que morei nestes meus quase cinqüenta anos. Provável herança do meu pai, que não sabia parar por muito tempo no mesmo lugar, esta necessidade de mudar me persegue como um fantasma, mantendo-me sempre às braçadas por sobre as ondas da vida. Penso que todo mundo tem que ter raízes e asas, mas as minhas raízes são curtas demais enquanto que as asas são grandiosas e ávidas por vôos... preciso equilibrar isso, certo?
Verdade seja dita: desta vez não me mudei por mera vontade de mudar, mas por necessidade mesmo. Vizinhos barulhentos, incômodos e invasivos, somados a uma casa inadequada, me levaram a sair do comodismo para procurar um lugar melhor para viver. E então me vi novamente envolvida naquele torvelinho (odioso torvelinho, diga-se de passagem!) de caixas, sacos de roupa e objetos mil. Livros incontáveis, muitos cds, centenas de dvds... e outras coisinhas banais que eu não me lembrava mais que existiam. Encontrei muito lixo, tranqueiras e coisas inúteis, mas (que bom!) encontrei também gratas lembranças, subitamente resgatadas pelas operações de empacotamento e desempacotamento. Fotos dos meus filhos pequeninos em festas de aniversários, reuniões de amigos e passagens de ano; certificados de “melhor mãe do ano”, carinhosamente assinados pela letra trêmula dos pequenos; cartões de aniversário engraçadinhos, fazendo piadas com a passagem dos anos; trabalhinhos escolares com mãozinhas decalcadas em guache; cartinhas antigas que rememoram momentos divertidos e emocionantes da vida familiar. Memórias visuais que vêm para remexer o fundo do ser, para ressuscitar sentimentos semimortos, para fazer viver novamente por alguns momentos o que já passou, mas deixou saudades.
Admito que estou fisicamente muito cansada de separar coisas para jogar fora ou para doar; estou exausta de limpar, faxinar, desempacotar e guardar coisas que parecem não acabar nunca; estou totalmente dolorida (mentira, as pálpebras e a língua não doem!) e absolutamente esgotada com o trabalho duro que isso tudo dá, mas minha alma está feliz: além de inaugurar uma nova fase na vida (torçam por mim para que ela seja boa!), eu encontrei em meio a este lufa-lufa muitas coisas legais nas minhas caixinhas de fotos, documentos e guardados: encontrei alguns pedacinhos de amor que eu adorei rever e que, de agora em diante, visitarei com mais frequência, sem esperar que outra catástrofe pessoal do tipo “mudança” me chacoalhe para que eu as resgate.
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