sábado, 9 de maio de 2009

NAMASTÊ

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Hoje cedo eu acordei indisposta, com náuseas, suando frio. Coisa simples de entender: há dois dias meus filhos estavam com virose e eu, que os atendi e tratei, provavelmente me contaminei e acabei por apresentar os sintomas. Nada sério, na verdade, mas o fato acabou por me impedir de ir à escola lecionar, me levando também ao médico.

E nas quase duas horas em que aguardei pelo atendimento, muito gentil por sinal, visto que eu não previ que adoeceria e, portanto, não tinha consulta marcada (obrigada mais uma vez, Dr. Paulo Pereira!) pude constatar que sala de espera é tudo de bom para quem gosta de observar a vida e as pessoas, não para criticar ou julgar, apenas para reconhecê-las semelhantes, humanas, iguais.

Deixando de lado as revistas da mesinha, passei a olhar ao redor, absorvendo com os olhos a essência daquelas pessoas estranhas que me cercavam no momento. Uma moça bem vestida e apressada chegou, entregou uns papéis à recepcionista, ficou cinco minutos aguardando e acabou por pedir à atendente que telefonasse quando estivesse perto do nome dela ser chamado, pois ela tinha muito a fazer. E foi-se embora, retornando apenas quando eu já estava saindo.

Outra senhora, sentando-se ao meu lado, perguntou-me meio insegura se eu conhecia o profissional com o qual ela iria se consultar. Eu lhe disse que sim, tecendo bons comentários a respeito dele para tranquiza-la (nada além da verdade, diga-se de passagem).

Uma jovem mãe, também à espera da sua consulta, fazia prodígios para entreter a filhinha de um ano e meio, ávida por alguma brincadeira ou distração que pudesse alegrá-la, uma coisa difícil de encontrar naquele ambiente tão limpo, tão despojado e preparado apenas para adultos.

Um senhor já grisalho, impaciente, olhava o relógio de minuto em minuto, suspirando aliviado quando seu médico chegou, entrando apressado no consultório. Fiquei imaginando comigo mesma o que ele teria de tão importante a fazer a ponto de ficar tão agitado.

Outra mãe chegou, já no fim da tarde, conduzindo pela mão um garotinho de uns dez anos de idade, que aparentava sofrer de algum pequenino problema motor. Seu olhar e suas atitudes, pacientes e desveladas, sugeriam um amor pleno e incondicional ao filho, talvez fragilizado pelo aparente problema neurológico.

Enquanto tudo isso acontecia e as pessoas chegavam, iam embora, entravam ou saiam dos consultórios, as secretárias atendiam a todos sem perder a calma nem a concentração, agendando consultas e respondendo às dúvidas dos clientes com profissionalismo e correção.

Enfim, na tarde de hoje, o microcosmo humano daquela sala de espera, rico e variado, exibiu um breve panorama das emoções humanas, todas tão conhecidas por todos nós: o medo, a alegria, a ansiedade, o amor, a impaciência e outros tantos estados de espírito que apenas pude pressentir nesta breve observação.

Isso me leva à conclusão que, sem dúvida alguma, tudo aquilo que nos une e iguala, como seres humanos, é bem maior e mais válido do que aquilo o que nos separa. Ou seja: o desejo de ser feliz e de prosperar que a todos nós anima, os medos e receios que humanamente compartilhamos, a esperança que teimamos em manter viva e o amor de que somos capazes, são muito mais significativos como fatores de união e amor ao próximo do que as pequenas diferenças que ostentamos de credo, cor, raça, sexualidade ou de ideais o são como fatores de desarmonia, violência ou guerra.

Quisera eu que todos pudéssemos ver isso com a clareza necessária para abandonarmos de vez os julgamentos, a violência, a discriminação e a opressão, vendo no outro apenas um reflexo de nós mesmos. E assim me lembro que a saudação tradicional dos induístas e yogues, o “Namastê” tem exatamente este sentido, ao agregar em si a idéia: “O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em ti”.

Namastê a todos vocês.

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