.
Neste feriado de sete de Setembro fui para o sul Minas Gerais encontrar alguns amigos muito especiais para trocar idéias e revitalizar a mente, abrir a percepção e derrubar antigos conceitos falidos, discutindo assuntos incomuns e urgentes para nós. E algumas das nossas discussões, talvez as mais acaloradas, cutucaram aquele meu ladinho mais chato, mais “crica”, aquele meu lado que olha meio impiedosamente para os fatos da vida. E assim, eis que me peguei pensando na jornada humana, traçada a ferro, fogo, suor e lágrimas ao longo da história planetária.
Vejam só: há quinze mil anos éramos modernos caçando, com lanças de pontas de pedra afiada, a carne para nossas mesas, nos sentindo digníssimos exemplares masculinos, plenos de coragem e virilidade; há aproximadamente oito mil anos éramos moderníssimos ao caçar e guerrear com lanças e espadas de metal, nos sentindo digníssimos exemplares masculinos, plenos de coragem e virilidade; há cerca de mil anos, nos tornamos atualíssimos ao descobrir a pólvora e ao aprendermos a matar à distância, sem precisar sujar as mãos com o sangue da caça ou do inimigo, nos sentindo digníssimos exemplares masculinos, plenos de coragem e virilidade. Hoje disparamos bombas (atômicas ou não), canhões, metralhadoras, fuzis, gases tóxicos e outras armas poderosas no planeta inteiro a cada segundo, nos sentindo digníssimos exemplares masculinos, plenos de coragem e virilidade.
Na verdade, tudo o que sempre fizemos foi sobreviver belicosamente, provando masculinidade (para conquistar a fêmea), subjugando o inimigo que nos colocava em risco, numa busca desesperada de poder, de dominação, de reconhecimento e aceitação.
Há mais de seis mil anos descobríamos a joalheria e nos enfeitávamos com milhares de penduricalhos variados, nos sentindo as rainhas da beleza e da sedução; há mais de quatro mil anos atrás descobríamos a maquiagem e os óleos embelezadores, nos pintando, nos embelezando e nos sentindo as rainhas absolutas da beleza e da sedução; nos tempos do Rococó descobríamos os saltos altos, as perucas e os espartilhos, nos sentindo as rainhas absolutas da beleza e da sedução; nos anos 60 do século XX desestruturamos as formas e queimamos sutiãs nas ruas, nos sentindo as rainhas absolutas da beleza e da sedução; atualmente, maldizemos a natureza que nos constitui e zombamos dela furando, cortando, costurando e mutilando nossos corpos para diminuir isso, aumentar aquilo, imobilizar um músculo, esticar aquilo outro ou extirpar um pedaço aqui e outro ali, nos sentindo as rainhas absolutas da beleza e da sedução.
Na verdade, tudo o que fizemos ao longo dos milênios, foi nos sujeitar a todo tipo de modismo e imposição estética para sermos desejadas e consumidas pelos homens, numa busca desesperada de poder, de reconhecimento e aceitação.
Não me parece, olhando assim meio de relance, que a jornada empreendida pela humanidade dos tempos pré-históricos aos dias de hoje, tenha sido coroada por algum êxito maior do que a mera sobrevivência. Antes que você esbraveje demais já vou avisando que eu concordo - uma sobrevivência permeada por ocasionais conquistas tecnológicas agradáveis, por certo, mas que apenas geraram novas formas de conseguir as mesmas coisas de sempre. Afinal, é claro que é melhor caçar mulheres com um BMW reluzente do que com um porrete de madeira e é muito mais agradável seduzir um homem com implantes de silicone nos seios do que cozinhando ou parindo filhos.
Mudam as moscas, mas a caca continua a mesma.
Acorrentados às tendências e necessidades humanas atávicas, nós seguimos através das eras como robôs, criando formas diferenciadas de produzir resultados cada vez mais sofisticados para atendermos às mesmas necessidades ancestrais de dominação, sedução, conquista, posse ou destruição.
Exceção feita aos verdadeiros artistas, seres especiais que seguem uma trilha paralela e escrevem uma história um pouco diferente a partir de códigos próprios, nós apenas repetimos padrões, hipocritamente mascarando estas repetições com rótulos de novidade, talvez para não ficarmos chocados com nossa falta de originalidade. Na verdade, temos andado em círculos ao buscar as mesmas coisas de sempre (o poder, o reconhecimento e a aceitação) da mesma forma de sempre: através da violência, da sedução, com egoísmo e força bruta, sem solidariedade nem consciência em relação à vida que fora de nós habita. Se você não me acredita, apenas leia atentamente todo este jornal que você tem em mãos e assista a todos os noticiários da TV de hoje.
Para não deixar um gostinho amargo ao final desta pequena coluna, registro que quero muito crer que as coisas poderão um dia mudar e que a consciência humana ainda poderá atingir a maioridade, liberando-se destes condicionamentos ancestrais tão pobres, limitadores e tristonhos, transcendendo o ego a ponto de realmente evoluir na direção de uma redenção humana e planetária. Vamos todos torcer por isto?
.
Neste feriado de sete de Setembro fui para o sul Minas Gerais encontrar alguns amigos muito especiais para trocar idéias e revitalizar a mente, abrir a percepção e derrubar antigos conceitos falidos, discutindo assuntos incomuns e urgentes para nós. E algumas das nossas discussões, talvez as mais acaloradas, cutucaram aquele meu ladinho mais chato, mais “crica”, aquele meu lado que olha meio impiedosamente para os fatos da vida. E assim, eis que me peguei pensando na jornada humana, traçada a ferro, fogo, suor e lágrimas ao longo da história planetária.
Vejam só: há quinze mil anos éramos modernos caçando, com lanças de pontas de pedra afiada, a carne para nossas mesas, nos sentindo digníssimos exemplares masculinos, plenos de coragem e virilidade; há aproximadamente oito mil anos éramos moderníssimos ao caçar e guerrear com lanças e espadas de metal, nos sentindo digníssimos exemplares masculinos, plenos de coragem e virilidade; há cerca de mil anos, nos tornamos atualíssimos ao descobrir a pólvora e ao aprendermos a matar à distância, sem precisar sujar as mãos com o sangue da caça ou do inimigo, nos sentindo digníssimos exemplares masculinos, plenos de coragem e virilidade. Hoje disparamos bombas (atômicas ou não), canhões, metralhadoras, fuzis, gases tóxicos e outras armas poderosas no planeta inteiro a cada segundo, nos sentindo digníssimos exemplares masculinos, plenos de coragem e virilidade.
Na verdade, tudo o que sempre fizemos foi sobreviver belicosamente, provando masculinidade (para conquistar a fêmea), subjugando o inimigo que nos colocava em risco, numa busca desesperada de poder, de dominação, de reconhecimento e aceitação.
Há mais de seis mil anos descobríamos a joalheria e nos enfeitávamos com milhares de penduricalhos variados, nos sentindo as rainhas da beleza e da sedução; há mais de quatro mil anos atrás descobríamos a maquiagem e os óleos embelezadores, nos pintando, nos embelezando e nos sentindo as rainhas absolutas da beleza e da sedução; nos tempos do Rococó descobríamos os saltos altos, as perucas e os espartilhos, nos sentindo as rainhas absolutas da beleza e da sedução; nos anos 60 do século XX desestruturamos as formas e queimamos sutiãs nas ruas, nos sentindo as rainhas absolutas da beleza e da sedução; atualmente, maldizemos a natureza que nos constitui e zombamos dela furando, cortando, costurando e mutilando nossos corpos para diminuir isso, aumentar aquilo, imobilizar um músculo, esticar aquilo outro ou extirpar um pedaço aqui e outro ali, nos sentindo as rainhas absolutas da beleza e da sedução.
Na verdade, tudo o que fizemos ao longo dos milênios, foi nos sujeitar a todo tipo de modismo e imposição estética para sermos desejadas e consumidas pelos homens, numa busca desesperada de poder, de reconhecimento e aceitação.
Não me parece, olhando assim meio de relance, que a jornada empreendida pela humanidade dos tempos pré-históricos aos dias de hoje, tenha sido coroada por algum êxito maior do que a mera sobrevivência. Antes que você esbraveje demais já vou avisando que eu concordo - uma sobrevivência permeada por ocasionais conquistas tecnológicas agradáveis, por certo, mas que apenas geraram novas formas de conseguir as mesmas coisas de sempre. Afinal, é claro que é melhor caçar mulheres com um BMW reluzente do que com um porrete de madeira e é muito mais agradável seduzir um homem com implantes de silicone nos seios do que cozinhando ou parindo filhos.
Mudam as moscas, mas a caca continua a mesma.
Acorrentados às tendências e necessidades humanas atávicas, nós seguimos através das eras como robôs, criando formas diferenciadas de produzir resultados cada vez mais sofisticados para atendermos às mesmas necessidades ancestrais de dominação, sedução, conquista, posse ou destruição.
Exceção feita aos verdadeiros artistas, seres especiais que seguem uma trilha paralela e escrevem uma história um pouco diferente a partir de códigos próprios, nós apenas repetimos padrões, hipocritamente mascarando estas repetições com rótulos de novidade, talvez para não ficarmos chocados com nossa falta de originalidade. Na verdade, temos andado em círculos ao buscar as mesmas coisas de sempre (o poder, o reconhecimento e a aceitação) da mesma forma de sempre: através da violência, da sedução, com egoísmo e força bruta, sem solidariedade nem consciência em relação à vida que fora de nós habita. Se você não me acredita, apenas leia atentamente todo este jornal que você tem em mãos e assista a todos os noticiários da TV de hoje.
Para não deixar um gostinho amargo ao final desta pequena coluna, registro que quero muito crer que as coisas poderão um dia mudar e que a consciência humana ainda poderá atingir a maioridade, liberando-se destes condicionamentos ancestrais tão pobres, limitadores e tristonhos, transcendendo o ego a ponto de realmente evoluir na direção de uma redenção humana e planetária. Vamos todos torcer por isto?
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário